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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

(Des)construindo

Alguns dias sem escrever. Aqui. Porque no meu livro da vida, escrevo todos os dias. Tenho ido bem, nos meus escritos. Ou, pelo menos, acho que tenho. Mas ainda espero os aplausos que eu tive um dia.

E a semana começou promissora demais. Prefiro quando as promessas boas vem na sexta feira. Pelo menos, já está próximo do domingo e se eu me decepcionar (e invariavelmente eu me decepciono) uma nova semana já está próxima. O recomeço fica mais perto. E menos dolorido.

Continuo acreditando em coisas que não foram feitas para acreditar. E vivendo ilusões que não foram criadas para mim. Cada dia mais burra: penso que cresço, mas apenas me diminuo. Ainda assim, não caibo em poucos caracteres. Porque ainda que pequena, o que existe dentro é imensidão. E não tenho alternativas: apenas (te) deixo ir.

Serei novamente transformada num sorriso que me trará pequenos momentos de alegria até que novamente eu durma. Começo a sentir medo de dormir, porque é justamente no sonho que eu encontro a realidade. E não gosto dela. Não é verdade que eu transformo tudo num grande drama. A verdade é que eu realmente sinto muito grande. É tudo real. O meu real. Maravilhoso (ou nem tanto) mundo de Lully.

Pergunto-me: peço demais? Não me parece. Peço apenas o que é pouco ou normal para tantas outras como eu. Não posso ser assim tão diferente do resto do mundo. Sou? Única sim, mas isso não quer dizer que estou bem comigo na minha unicidade. Seria mais fácil ser só mais uma.

Eu quero apenas a tranquilidade de uma porta fechada de hotel. Não dormir e não me importar com isso. E deixar o sol brilhar lá foram, porque eu me esquento no escuro do meu canto. Criar segredos. E viver sem expectativas. Porque são elas que me matam.

Em meio a tantos encontros, desencontro. Perdas e ganhos desiguais. Tendências inapropriadas. Vício. Toxicidade. Eu costumava ser elogiada, hoje sou apenas ludibriada. Por mim mesma. Medos adquiridos. Dificuldade em aceitar o que eu tenho, porque nunca antes tive. Erros. Manias. Atuação. Palavras. E frustrações.

Desconstruo o que foi recém construído. E depois me arrependo. Mas faço de novo. Por que? Se não há nada aqui, não há como colocar tudo em seu devido lugar. Há? Ar. Ou a falta dele.

Sou o absurdo. Em meio a felicidade quase plena, procuro, nem que seja inconscientemente (em sonho), a porta que me leva à dor. E entro nela sem receio algum. Sabendo que inútil eu me faço melhor. Sabendo que pequena eu me faço pior. O avesso. Porque o que está na minha cara eu me recuso a ver.

Há tempos, eu não fazia isso comigo. E foi bom deixar a minha boca sentir o gosto doce. De fato, não preciso do amargo, mas me custa acreditar nisso.

Lírica.

Sou um mundo de sentimentos direcionados a um único ser, que sabe disso e tenta, de maneira louvável, me fazer acreditar que eu posso e mereço sentir tudo aquilo. E que sou correspondida. Consegue. Só que não.

Cética.

Adepta da afirmação de que não há certeza absoluta a respeito da verdade, porque o meu intelecto admite a existência de fenômenos metafísicos. Não creio nem no que sinto, que dirá no invisível. Mas vejo.

Cínica não.

Didática.

Em tudo, menos na intenção. Dificuldade de aceitar aquilo que, por mais inaceitável, é a minha concepção. Quero o que não posso, e finjo-me poder exatamentre aquilo que não quero. Ausência de máscaras quando elas deveria existir, pois me deixariam protegida.

Tímida.

Menina que insiste em se esconder num corpo de mulher. Infeliz o momento em que me fizeram descobrir que eu posso muito mais do que suporto só porque tenho forma. E sou rotulada, como qualquer outra, como uma qualquer, como qualquer nenhuma. Mas o conteúdo é volúvel demais.

Ácida não.

Recados.

Pequenos aviso colados nas minhas próprias janelas. Esqueço-me, contudo, que eu nunca olho para fora. Não me inebria ver o céu, a nuvem a lua. Porque o que é meu está aqui dentro. E só eu enxergo.

Cândida.

Castelo branco. Inocência mutilada, que, na mutilação, não desapareceu. Ao contrário: espalhou-se. E agora impregnada em mim, presa numa história feia e suja.

Múltipla ação. Não.

Ainda que não exista ninguém que nos chame de nós, eu em ti atada (ou atormentada) não me deixo mais a sós. Os rodeios e torneios das palavras ditas ou escritas ecoam por milhares, centenas ou dois. Ou um. E não foi só ontem, nem hoje. Mas será daqui a um minuto. E quando o minuto passar, será de novo. Porque você  sempre esteve certo. E eu, errada, fiquei no tempo que eu mesma faço.

Sou vento novo vindo do mesmo pulmão. E nunca vou entender. Nem você.

Indigna de perdão, porque faço exatamente aquilo que não queres que eu faça: sofro. Mas somente sofro porque verdadeiramente amo.


(baseado na música Por que nós? de Marcelo Jeneci)