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segunda-feira, 6 de maio de 2013

"...nem foi tempo perdido..."

Era para ser apenas uma segunda feira. E as segundas um dia fora boas. Era o fim de uma distância dolorida que se preenchia pela espera que nunca acabou. Mas hoje a terça será de olhos inchados. De lágrimas ressecadas e escorridas pela pele de um rosto cru.

Eu assim. Apenas choro. Pranto. Dor que escorre pelos olhos, ainda que nem eu mesma consiga descobrir o que é a causa. Sem saber o porquê. Sem talvez existir um porquê. Um coração que insiste em bater apertado demais em pouco espaço, em pouco tempo, em nenhum motivo, em trinta e três anos de motivos. 

Gente ao meu redor que está ocupada demais para me dizer que vai ficar tudo bem. Ou para me ouvir perguntar se vai ficar tudo bem. Ou para apenas falar. 

Apenas gente que é gente. E tem mais o que fazer. E gente que quer estar no meu lugar. E gente que não quer que eu esteja no meu lugar. E gente que se mata por dinheiro. E gente que não vê exatamente o que está bem à frente. 

E tanta gente. E ninguém.

Hora de ouvir a legião dizendo que não tenho mais o tempo que passou, mas ainda tenho todo o tempo do mundo. E me perder em frases antagônicas que descrevem exatamente o que eu não sei que sou. E hora de deixar o tempo passar sem fazer o que precisa ser feito, porque o sempre há algo para ser feito antes. E eu não faço. Ou refaço. Ou desfaço. Necessidade de abraço.

Sangue amargo.

Dias de noite fria. Um frio que não se pode aquecer, porque sou eu mesma quem cria. Esfria. Esguia. Me guia?

A menina que ensinou não sabe ensinar a si mesma. De tanto cuidar de tanta gente, esqueceu-se de cuidar de si mesma. É hora de transbordar. Deixar derramar tudo que há do lado de dentro, e limpar, e recomeçar, sem saber de onde, e sem poder voltar. Apenas caminhar. Uma luz está adiante. E mesmo sem vê-la, persigo. Eu, meu próprio inimigo.

A menina que virou mãe e perdeu o direito de pedir a o colo da sua mãe.

Distante. De tudo.

Manhã de entardecer cinza. Um cinza que cega os olhos de quem está acostumada a ver apenas no escuro. Em volta de mim mesma, eu mesma construí meu muro. E não sei ao certo se fiquei do lado de dentro ou de fora. A construção que deveria me proteger se volta contra mim.

Instinto insuportável que não me deixa vencer. Adoecer. E ver tudo escorrer. Sem nada fazer. E correr. Porque ainda tenho meu próprio tempo. O meu. Próprio. Tempo. O que há no fim do dia é apenas um novo dia. E amanhã, amanhã eu esqueço. E se tudo cer certo, com um monte  outras preocupações me aqueço. Aquiesço. Recomeço. 

De fato. Ninguém prometeu. E não foi tempo perdido. Foram apenas degraus. E ainda tenho muitos a subir. Mas não me canso. Deixei-me anestesiar pelo cansaço, e enquanto não sinto apenas consinto. 

Sempre em frente. Sempre enfrente.

Não tenho medo do escuro
Mas deixe as luzes acesas