Nunca gostei de reler meus escritos. Sinto-me mal por eles. E confusa. Por vezes, boba. Inocente. Inconsequente. Por vezes, não sinto, porque não consigo me recordar do que sentia. E eu sempre sinto quando escrevo.
E escrever é exatamente isso. Deixar o sentimento escorrer pelos dedos.
Quase sempre, na companhia solitária da minha tristeza. Não consigo me desapegar dela, até porque é só nela que eu sou eu, e é só nela que as minhas palavras ganham vida. Tem que ser intenso, senão fica feio, ruim e sem graça.
Dias difíceis, dias nem tanto. E dias mornos, que em geral são ruins. Sinto falta de sentir.
Coincidentemente, dia desses tive contato com dois dos meus textos. Sem querer. Sem procurá-los. Eles bateram na minha porta. Estão perdidos aqui mesmo, neste blog. Dois escritos nos dias mais cinzas que eu me lembro de ter vivido. Tempestade que estava prestes a cair, mas ficou apenas parada, como nuvens pesadas encobrindo o sol. Não choveu. Não molhou a terra. Não fez nada germinar. Apenas permaneceu, para que o sol não brilhasse.
Um dos textos era duro. Eu sendo dura comigo, e materializando uma frustração sem tamanho. Um misto de vontade de mostrar pro mundo que a tristeza era apenas raiva junto com a certeza de que a raiva nunca conseguiria, por si só, esconder o que de mais triste eu encontrei pelas minhas andanças.
Era o ponto final de uma frase que nunca chegou ao seu fim. E eu nunca soube (ainda não sei) como lidar com pontos finais. Logo eu, que sou tão reticências.
O outro, também retratava a mesma dor, mas como águas tranquilas de um mar azul no fim da tarde. Um barulho incessante de ondas quebrando sem sentido, sozinhas na areia que nunca se move. Uma entrega involuntária a algo contra o que eu nunca consegui lutar. Era apenas a aceitação.
Dois retratos, da mesma imagem desfocada. E nem mesmo na minha mente, não consigo mais ver com clareza o que antes parecia perfeito. Apenas não é mais. Ou não foi. Ou nem poderia ter sido.
Como previ, nunca mais recuperei as cores. Meu filme queimou. Mas roda. Funciona, por trás de pequenos sorrisos, pequenas satisfações momentâneas, pequenos pedaços de um todo que não vai mais se formar. O preto e branco agora não machuca mais.
A menina que sabia escrever continua procurando cantos escondidos para deixar suas marcas, seus sinais, suas pistas. Já não sabe mais se há quem siga, quem procure, quem deseje. E não se importa. A menina era eu, e agora eu sei que deixar de ser menina não é bom. Porque descobrir que o arco íris não existe fez com que ela parasse de buscar o ouro.
Descobri que a vida é um jogo. Mas a minha vez já acabou. Então apenas me mantenho sentada, à margem do campo, observando aqueles que ainda não sabem que logo vai acabar, e que, exatamente por não saberem, jogam com tanta vontade.
Sem chorar pelos cantos, sem querer que tivesse sido diferente, sem acreditar que vai mudar. Eu não fico mais tão triste. Também não fico tão feliz. Apenas espero o jogo acabar.
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