Um dia a gente rasga, no outro a gente costura. E os
ponteiros do relógio continuam fazendo seus movimentos circulares. Por mais
nobre que seja a causa, o tempo não para.
Aprendendo a perdoar e a conviver com o incerto que fica
mais incerto a cada dia, por aqui as coisas continuam caminhando. Para onde,
não sei ao certo. Mas continuam. Uma nova insegurança a cada dia. Pilares de
sustentação parecem estar bambos. E sobre aqueles que permanecem firmes, eu
empenho toda a minha força no intuito de deixa-los fraco. Não adianta: sou
assim mesmo. Mas só em alguns períodos do dia, da semana, ou do ano.
Três dias, três sensações, totalmente opostas e
assimétricas. Divergentes. Mas dentro da mesma eu.
Dia 1: os machucados nos joelhos ainda não estavam
cicatrizados, e mesmo assim eu tive que arrastá-los no chão mais uma vez para procurar
todos os pedacinhos do meu coração mais uma vez quebrado. Eram muitos, e estavam espalhados
por todos os cantos. Foi muito difícil conseguir montar de novo o quebra cabeça
da minha vida. Dormi quando um novo dia já estava quase chegando. Exausta.
Dia 2: curativos feitos, e a certeza de que vou sobreviver,
veio então a vontade de vingar. Não no sentido de fazer o mesmo com quem me fez
chorar. Mas era necessário colocar as coisas nos seus devidos lugares. E eu
estufei o peito, me enchi da força que sempre aparece quando eu penso que já
estou totalmente fraca, e me impus. Consegui dormir mais cedo, e descansar
melhor. Mas é sozinha que eu presto contas a mim mesma. Aquela força não seria
irreal?
Dia 3: manhã insossa que precede um dia inteiro salgado
demais. Consequências dos dias 1 e 2 começam a aparecer. Não se trata mais de
tristeza ou força. É hora de decisões. Quando penso que andar descalça pela
estrada de pedregulhos foi difícil, descubro que era apenas para engrossar
meus pés: da metade para frente, a estrada será de espinhos.
O dia 3 ainda não acabou. E engana-se quem pensa que tudo
isso diz respeito apenas a amores mal resolvidos. Diz também. Mas o momento é
bem mais crítico. Vida pessoal misturando-se com a vida profissional.
Instabilidade que gera insegurança. Tentativa e erro. E enquanto não sei se o
que tentei ou vou tentar é certo ou errado, melhor continuar trabalhando.