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domingo, 17 de fevereiro de 2013

A menina que sabia escrever

Inevitável... Tenho tanto a agradecer, e a tanta gente... Estou um pouco perdida, confesso. E nada melhor do que escrever para me achar.

O balãozinho acima vai para todo mundo que se interessou, comentou, compartilhou, tuitou, ligou, e etc. 
=)

Não é mentira quando digo (e tenho dito bastante) que estou emocionada. A cada elogio, a cada parabéns, a cada palavrinha que eu recebo, inundo meu rosto com um sorriso que quase me afoga. 

A menina que sabia escrever.

Desde sempre, brincou com as palavras, e sonhou, bem no fundinho do seu coração, que suas palavras um dia pudessem ganhar o mundo. Sonhou um sonho escondido, que nunca deixou de ser um sonho, mas que muitas vezes encolheu-se para dar espaço para as obrigações da vida que por ela passa.

Cresceu. Formou-se. Tornou-se mãe. 

Brigou com o mundo. Desentendeu-se com o que era para ser considerado o caminho certo. Andou por trilhas tortas. Teve seu coração partido uma, duas, inúmeras vezes. 

Mas a menina sabia escrever. 

E escreveu. E ainda tem muitas outras tantas coisas para escrever. E o fará. Porque o lápis e o papel continuam sendo seus melhores amigos. Porque a entendem como ninguém. Ninguém mesmo. Porque as suas dores ficam menores quando colocadas na forma escrita. E porque é exatamente isto que ela veio fazer aqui.

A menina continua uma menina. É uma criança, que recomeça aos trinta e poucos anos. Um tudo novo com o qual ela ainda não sabe lidar, e que traz a ela sensações ainda não experimentadas misturadas com outras tantas que ela já conhece tão bem.

Uma história. Uma nova história. A mesma história, agora escrita. Reescrita. Impressa. Acreditada. E um mundo inteiro escondido. Querendo se mostrar, porque encontrou agora a porta de saída (ou de entrada).

A menina mescla o tudo com o nada. E no meio do que ainda não sabe o que é, apenas tem uma certeza: continuará. 

A menina sou eu. 

E eu realmente estou quase que não cabendo em mim. Um monte de coisas misturadas aqui. Orgulho. Vontade de gritar. De mostrar para quem não acreditou. De abraçar quem me apoiou. De fazer muito mais. 

E é só esta a certeza agora: eu farei. Muito mais.  

Querido mundo: poucas foram as vezes que eu disse isto, mas hoje encho o peito para dizer que sou grata por estar aqui.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Continue sonhando

Sim. 

Já posso mudar o nome do blog: agora eu sou uma escritora. 

E poderia passar um dia inteiro escrevendo nomes de pessoas importantes a quem devo agradecer pela realização deste sonho. Mas deixo para fazer isto nas páginas iniciais dos meus livros.

O dia que eu recebi meu livro foi um dia estranho. Começou normal. Atingiu o ápice de felicidade, e, poucos minutos depois, o ápice da tristeza, tudo isso ainda pela manhã. E após o almoço, eu fiz uma coisa que nunca tinha feito: simplesmente fui embora do meu trabalho. O meu estoque de força zerou, e eu precisei me deitar.

Durante a tarde, me recuperei. E juras de muito tempo foram repetidas. 

Tudo ia ficar bem.

No fim do dia, recebi meu primeiro filho. Tributário para quem odeia tributário. Lindo. Me encheu de orgulho, e não contive lágrimas. Eram agora lágrimas de felicidade. E chegou também uma encomenda: um Master System, que eu comprei para poder jogar Alex Kid in the Miracle World de novo. Voltei à infância.

À noite, em uma conversa, ouvi a frase: "que bom que você voltou a ser você." 

Eu tinha de fato recuperado o brilho dos meus olhos. Foi um dia especial, que terminou com a promessa de outro dia ainda mais especial por vir no amanhã. Não podia estar mais feliz. Toda a luta de mais de um ano agora chegara ao fim. Proclamei, para quem quisesse ouvir, que a minha vida ia começar.


E começou. 

Recebi o outro filho. Empresarial para quem odeia empresarial. Mais orgulho. Mais lágrimas. Mais sorrisos: estes destinados à pessoa certa, que estava ao meu lado compartilhando o sorriso.

E seguiram-se dias de absurdo contentamento. Uma sensação de que tudo tinha valido à pena. Cada noite não dormida, cada lágrima contida ou não contida. Cada desentendimento. Cada aperto que eu senti no coração. Fim de semana no parque. Criança sorrido. Deitar com a mente despreocupada, e com o coração leve. Um alívio indescritível. A minha vida valeu a pena porque eu vivi aqueles momentos.

Eu ainda não sabia (e nem poderia imaginar) que duraria apenas 6 dias.

Assim as coisas acontecem na vida da gente. Você luta. Você ganha. Mas aí alguém vem e diz que a luta não valeu. E que não vai haver outra luta. Simplesmente anularam tudo. Não há mais nada. 

E eu, que nunca fui de aceitar as coisas sem que elas estejam definitivamente resolvidas, me vi obrigada a simplesmente ceder. Foi como a morte de uma pessoa muito querida: inconformismo, resignação, questionamentos, raiva, incredulidade. Mas nada disso me trouxe resposta nenhuma. E nem vai trazer. 

Há respostas, mas elas nunca me serão dadas.  

Continue caminhando. 
Continue caminhando.

Os sentimentos dentro de mim aos poucos mudaram. Senti pena por ter odiado. Um dia, ainda pedirei desculpas, com todo o meu coração. Mas ainda não tenho estrutura para tanto. Um passo de cada vez.


Não há motivo nenhum para ser explícita com relação aos fatos acima narrados. Mas há uma lição, que me foi imposta, e que, esta sim, vale a pena compartilhar.

Eu sou o centro do meu universo. 
Eu carrego em mim a felicidade que eu preciso para efetivamente contribuir positivamente com as pessoas que me querem bem.
Nunca serei acessório de outros, mesmo que isso possa me trazer a falsa sensação de felicidade.

Esta é a lição. Eu imprimi esta frase, e colei na parede do meu quarto, bem ao lado da minha cama, de modo que todos os dias, quando me levanto, eu a recito. Pode parecer sem sentido, mas aos poucos ela está entrando no meu cérebro. E fazendo isto incessantemente, já deixei de simplesmente repetir as palavras para acreditar no significado de cada uma delas.

Quando o maior erro da sua vida é cometido em nome do amor, fica incrivelmente mais complicado aceitá-lo, e, principalmente, perdoar a si mesmo por tê-lo cometido. A busca por alguém para culpar é incessante. E isto faz com que a dor fique dentro de você, sendo a cada dia remoída, e te consumindo aos poucos. 

Não vale a pena.

Injusto?

Sim. A vida é injusta muita vezes. Você vai fazer algo plenamente convicto de que está certo, e vai descobrir que, mesmo estando certo, deu tudo errado. Você vai chorar. E vai doer. E vai ser difícil aceitar o sol nascendo mais uma vez.

Mas quem disse que o mundo é justo? Quem disse que as pessoas são justas? Se te disseram, mentiram. Portanto, confia apenas em ti mesmo. Segue teu coração. Porque ainda que faça somente isto, você vai sofrer.  

Por ter ao meu lado pessoas do bem, a minha fase de recuperação está sendo mais breve do que eu mesma pude supor. Achei que passaria dias recolhida, sentindo-me pequena, e, com esta sensação, diminuindo-me ainda mais. Achei que choraria mais do que chorei. Achei que tentaria reverter a situação. 

Mas agora eu sou uma escritora. E eu tenho muitos outros livros para escrever. E muitos outros projetos para dar andamento. E muitos trabalhos para ocupar a minha mente.

Resumo a minha vida nos últimos 18 meses em um plantio. Plantei duas árvores. 

De uma delas, nasceram meus livros. Uma árvore linda e de raízes fortes. Cultivadas com carinho e muita dedicação. E eu já posso ver as flores dos próximos livros. São bonitas, mas vão exigir de mim muito esforço, para que brotem delas frutos tão bonitos como aqueles que já nasceram. Estou pronta.

Da outra, nasceu um fruto amargo. Foi uma gestação de risco, sofrida, e que gerou um bebê lindo, mas que não sobreviveu.

Não ficou culpa. Não ficou mágoa. Não ficou nada.

Se eu vou deixar de plantar árvores? Não. Nunca. Pelo contrário: vou plantar diversas outras. Infinitas. E sei que algumas delas terão o mesmo destino desta última. Mas eu prefiro pagar para ver. A minha vida é curta demais para que eu viva eternamente me perguntando o que teria acontecido se eu tivesse tentado.


…e um dia, este homem encontrou-se, num sonho, com a felicidade verdadeira, num breve instante. um desses instantes radiosos e grandiosos, desses capazes de mudar para sempre a nossa existência. 
e se este instante for embora? quanto anos são necessários para reconstruir o passado perdido? e quanto anos são necessários para reconstruir um instante?”

Trecho adaptado retirado do filme Nosso Lar.