Sim.
Já posso mudar o nome do blog: agora eu sou uma escritora.
E poderia passar um dia inteiro escrevendo nomes de pessoas importantes a quem devo agradecer pela realização deste sonho. Mas deixo para fazer isto nas páginas iniciais dos meus livros.
O dia que eu recebi meu livro foi um dia estranho. Começou normal. Atingiu o ápice de felicidade, e, poucos minutos depois, o ápice da tristeza, tudo isso ainda pela manhã. E após o almoço, eu fiz uma coisa que nunca tinha feito: simplesmente fui embora do meu trabalho. O meu estoque de força zerou, e eu precisei me deitar.
Durante a tarde, me recuperei. E juras de muito tempo foram repetidas.
Tudo ia ficar bem.
No fim do dia, recebi meu primeiro filho. Tributário para quem odeia tributário. Lindo. Me encheu de orgulho, e não contive lágrimas. Eram agora lágrimas de felicidade. E chegou também uma encomenda: um Master System, que eu comprei para poder jogar Alex Kid in the Miracle World de novo. Voltei à infância.
À noite, em uma conversa, ouvi a frase: "que bom que você voltou a ser você."
E começou.
Recebi o outro filho. Empresarial para quem odeia empresarial. Mais orgulho. Mais lágrimas. Mais sorrisos: estes destinados à pessoa certa, que estava ao meu lado compartilhando o sorriso.
E seguiram-se dias de absurdo contentamento. Uma sensação de que tudo tinha valido à pena. Cada noite não dormida, cada lágrima contida ou não contida. Cada desentendimento. Cada aperto que eu senti no coração. Fim de semana no parque. Criança sorrido. Deitar com a mente despreocupada, e com o coração leve. Um alívio indescritível. A minha vida valeu a pena porque eu vivi aqueles momentos.
Eu ainda não sabia (e nem poderia imaginar) que duraria apenas 6 dias.
Assim as coisas acontecem na vida da gente. Você luta. Você ganha. Mas aí alguém vem e diz que a luta não valeu. E que não vai haver outra luta. Simplesmente anularam tudo. Não há mais nada.
E eu, que nunca fui de aceitar as coisas sem que elas estejam definitivamente resolvidas, me vi obrigada a simplesmente ceder. Foi como a morte de uma pessoa muito querida: inconformismo, resignação, questionamentos, raiva, incredulidade. Mas nada disso me trouxe resposta nenhuma. E nem vai trazer.
Há respostas, mas elas nunca me serão dadas.
Continue caminhando.
Continue caminhando.
Os sentimentos dentro de mim aos poucos mudaram. Senti pena por ter odiado. Um dia, ainda pedirei desculpas, com todo o meu coração. Mas ainda não tenho estrutura para tanto. Um passo de cada vez.
Não há motivo nenhum para ser explícita com relação aos fatos acima narrados. Mas há uma lição, que me foi imposta, e que, esta sim, vale a pena compartilhar.
Eu sou o centro do meu universo.
Eu carrego em mim a felicidade que eu preciso para efetivamente contribuir positivamente com as pessoas que me querem bem.
Nunca serei acessório de outros, mesmo que isso possa me trazer a falsa sensação de felicidade.
Esta é a lição. Eu imprimi esta frase, e colei na parede do meu quarto, bem ao lado da minha cama, de modo que todos os dias, quando me levanto, eu a recito. Pode parecer sem sentido, mas aos poucos ela está entrando no meu cérebro. E fazendo isto incessantemente, já deixei de simplesmente repetir as palavras para acreditar no significado de cada uma delas.
Quando o maior erro da sua vida é cometido em nome do amor, fica incrivelmente mais complicado aceitá-lo, e, principalmente, perdoar a si mesmo por tê-lo cometido. A busca por alguém para culpar é incessante. E isto faz com que a dor fique dentro de você, sendo a cada dia remoída, e te consumindo aos poucos.
Não vale a pena.
Injusto?
Sim. A vida é injusta muita vezes. Você vai fazer algo plenamente convicto de que está certo, e vai descobrir que, mesmo estando certo, deu tudo errado. Você vai chorar. E vai doer. E vai ser difícil aceitar o sol nascendo mais uma vez.
Mas quem disse que o mundo é justo? Quem disse que as pessoas são justas? Se te disseram, mentiram. Portanto, confia apenas em ti mesmo. Segue teu coração. Porque ainda que faça somente isto, você vai sofrer.
Por ter ao meu lado pessoas do bem, a minha fase de recuperação está sendo mais breve do que eu mesma pude supor. Achei que passaria dias recolhida, sentindo-me pequena, e, com esta sensação, diminuindo-me ainda mais. Achei que choraria mais do que chorei. Achei que tentaria reverter a situação.
Mas agora eu sou uma escritora. E eu tenho muitos outros livros para escrever. E muitos outros projetos para dar andamento. E muitos trabalhos para ocupar a minha mente.
Resumo a minha vida nos últimos 18 meses em um plantio. Plantei duas árvores.
De uma delas, nasceram meus livros. Uma árvore linda e de raízes fortes. Cultivadas com carinho e muita dedicação. E eu já posso ver as flores dos próximos livros. São bonitas, mas vão exigir de mim muito esforço, para que brotem delas frutos tão bonitos como aqueles que já nasceram. Estou pronta.
Da outra, nasceu um fruto amargo. Foi uma gestação de risco, sofrida, e que gerou um bebê lindo, mas que não sobreviveu.
Não ficou culpa. Não ficou mágoa. Não ficou nada.
Não ficou culpa. Não ficou mágoa. Não ficou nada.
Se eu vou deixar de plantar árvores? Não. Nunca. Pelo contrário: vou plantar diversas outras. Infinitas. E sei que algumas delas terão o mesmo destino desta última. Mas eu prefiro pagar para ver. A minha vida é curta demais para que eu viva eternamente me perguntando o que teria acontecido se eu tivesse tentado.
“…e um dia, este homem encontrou-se, num sonho, com a felicidade verdadeira, num breve instante. um desses instantes radiosos e grandiosos, desses capazes de mudar para sempre a nossa existência.
e se este instante for embora? quanto anos são necessários para reconstruir o passado perdido? e quanto anos são necessários para reconstruir um instante?”
e se este instante for embora? quanto anos são necessários para reconstruir o passado perdido? e quanto anos são necessários para reconstruir um instante?”
Trecho adaptado retirado do filme Nosso Lar.
Não sei se por uma "pegadinha" da vida, por coincidência ou por qualquer outra razão, esses tempos tenho lido que devemos nos acostumar que o arco-íris só pode surgir após as tempestades.
ResponderExcluirIsso me intrigou um pouco e pra fazer da minha mente um convívio melhor dos conflitos com a alma, decidi adaptar o entendimento de que o arco-íris não precisa surgir necessariamente após as tempestades: uma fina garoa é o suficiente pra molhar onde o sol resolver brilhar e reluzir as 7 cores.
E vai chover, vai molhar a terra e vai florescer.
E tempos quentes também surgirão: as plantas correrão o risco de secar.
Aí vai chover de novo... e de novo.
Numa dessas entendo que a chuva não é problema, mas sim, a solução. =)
Nada disso faria sentido se o seu coração não vibrasse, se os teus nervos não despontassem.
Você poderia optar simplesmente por não se afetar.
Mas foi justamente por afetar-se e por ver que a chuva não é o problema, que você conseguiu seguir a trilha... aquela trilha escorregadia e lamacenta por conta da chuva.
Os pés são seus, a força da perna é sua.
Você é de fato a única responsável por sua felicidade.
E mais do que isso: tem o compromisso de não permitir que ninguém tire este encargo. Ele é só seu.
Sou muito feliz por você, minha amiga linda...
Ainda mais feliz por ver você solidificar o seu castelo de areia... com barro forte (aquele, da lama, da chuva...) e troncos das árvores que já não podem mais fincar-se no chão.
Que Deus abençoe todos os seus passos.
Perto ou distante, aqui ou "lá": eu estarei sempre na melhor expectativa pela sua felicidade plena.
Parabéns pra você.
Parabéns por você.
Beijoca.
Giovana Gabriela