Páginas

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Agora vai



Pronto. Arquivo liberado. Agora vai. Será que vai? Não consigo deixar de me perguntar: isso é normal? Dói assim mesmo? Putz! Pra mim foi um parto...

É bem igual o nascimento de um filho. 

Quando você descobre que está grávida, vem um misto de sensações e medos absurdos e deliciosos. Você faz e refaz umas cinquenta vezes o teste para ter certeza. E mesmo com todos os testes positivos, ainda fica uma dúvida. Será?

Quando você é chamada para escrever um livro, você fica meio boba também. Não acredita que vai dar conta, ou que o convite é verdadeiro. E pensa e repensa se realmente quer fazer isso, mesmo depois de já ter aceito o desafio. Será?

Aí, você descobre que a gestação dura quarenta semanas, e não nove meses. E tem certeza absoluta que não vai dar tempo de preparar tudo neste tempo. Começa a se sentir estranha. Chora. Enjoa. Fica com fome. Fica com sono. Fica com calor, com frio, com calafrio. Cabelo que não pode pintar, remédio que não pode tomar. Barriga, celulite, estria.

Aí, você começa a escrever. E se perde, porque já não sabe exatamente sobre o que deveria falar no seu livro. Ou tem vontade de falar sobre tudo. Perde a noite e o dia. Deixa de lado algumas muitas coisas. Cansa. Sente raiva. E passa a ter certeza de que você é a única pessoa no mundo que não poderia escrever, porque você não sabe escrever. Fica tudo horrível. Mesmo assim, continua. Já foram cinquenta páginas, vamos tentar mais cinquenta. Ponto, vírgula, parágrafo.

E quando vai chegando a hora do bebê nascer, milhões de pensamentos: vai nascer perfeito? Como serão os cabelos? Os olhinhos? As mãozinhas? Não, não era apenas uma manchinha na tela do ultrassom: era meu bebê. Arrumar a mala para levar para a maternidade, mesmo sabendo que ainda faltam algumas semanas. Mas vai que ele resolve nascer antes? Mau humor e felicidade. Pés inchados. Chega a hora.

E quando vai chegando o capítulo final, um medo de terminar. Porque é possível que alguém leia. E podem te julgar. E vão mesmo te julgar. As olheiras estão escuras, o assunto está ficando chato. Você não aguenta mais, e, ao mesmo tempo, não quer acabar. Porque o que vai fazer quando acabar? E pensa em recomeçar do zero, mas não dá mais tempo. Mais duas páginas. Chega o prazo.

Hora de ir para a maternidade. Um pouco de dor e a certeza de que quando voltar para casa, não vai mais estar sozinha. Trará um serzinho nos braços. Vai doer? Sim. Vai doer. Mas é a dor mais gratificante do mundo. E o parto pode demorar ou não, pode complicar ou não. Mas você nem liga. Ao mesmo tempo, uma explosão de felicidade e o medo de que a partir do nascimento, ele não estará mais protegido dentro da sua barriga.

Hora de enviar o arquivo. Um pouco de saudade e a incerteza de que ficou tudo certinho. Podia ter revisado mais uma vez. Podia ter excluído um capítulo ou incluído outro. Vai doer? Bom. Em mim doeu. Senti um vazio infinito, porque não tinha mais o que fazer nas minhas noites. Voltaria a dormir. Mas quem disse que eu queria dormir? Ao mesmo tempo querer terminar, e quando termina, não querer que tivesse terminado.

E, finalmente, sentir sua cria nos seus braços. Amor indescritível que você nem sequer sabia que existia. É seu. Você que fez. Carregou no ventre pelo tempo necessário e agora pode chorar por ver que ele é lindo. Mais lindo impossível. Quem foi que disse que recém nascido é feio? O nosso, nunca é. 

Eu ainda não cheguei no finalmente do meu livro. Ainda comparando com um nascimento, eu estou agora na fase em que ele já nasceu, e eu já constatei que ele é perfeitinho. Mas a pediatra levou ele para o berçário. E eu preciso esperar que me tragam ele de volta, pra poder, aí sim, mostrar para todo mundo e dizer: é meu.

Quase realizada. Quase uma escritora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário