Então é assim: você quer escrever. Aí, você escreve. E aceitam te publicar. Até aí, lindo.
Mas não é o fim. Depois dessa parte legal vem o inferno. Eles mudam seu texto sem te pedir. Cortam coisas. Incluem coisas. E te mandam. E você, que achou que nunca mais na vida fosse ser obrigada a ler o que escreveu, fica sem escolha. Lê, e acha tudo horrível. E tem vontade de abortar a missão do projeto. E quer reescrever tudo, ou simplesmente jogar fora o arquivo.
Alguém caridoso te convence que tá tudo lindo. Você aceita, e manda de novo, pedindo gentilmente que sejam feitas algumas alterações.
O arquivo volta. Com tudo errado de novo. Não era vírgula, era ponto! E parágrafo! Quem mudou isso aqui?
Você caminha novamente pelo calvário, carregando a sua cruz, que parece ainda mais pesada.
Envia de novo, pedindo (não tão gentilmente mais) as alterações.
E ele volta.
Mas que diabos essa vírgula continua fazendo aqui? ERA PONTO!!!!!
Sim. Eu me irrito. Profundamente. Sou dessas. Chata. Chata mesmo! Não sou simplesmente chatinha não. Sou das mais chatas do mundo.
E já que aqui eu posso escrever sem ninguém me censurar ou mudar o meu texto, eu me dou o direito de explicar.
Livro é filho. Você gera ele dentro de você e o trabalho do parto é doloridíssimo. Você cuida dele com carinho. Amor. E dá dor no coração de vê-lo partir. Agora pensa comigo: você ia permitir que pintassem um braço do seu filho de azul? Ou que lhe tirassem o umbigo? Ou ainda que colocassem dentes de leão marinho nele?
Mas são alterações tão pequenas! É só um ponto final!
É só um ponto final na casa do $%&*. E ainda que seja só um ponto final, é o meu ponto final. Eu quero ele ali! Não vou deixar meu filho sem umbigo nem aqui e nem na China. Desculpa.
É. Eu estou irritada mesmo. E nem vou citar os fatos de que demoraram mais de vinte minutos para pegar meu carro no estacionamento hoje, ou que o trabalho que eu fiz foi tratado como brincadeira, ou que as contas deste mês somaram um valor bem maior do que as receitas, ou que eu vi (e sempre vejo) conversinhas desagradáveis e desnecessárias por aí.
Hoje estou feliz porque tenho um único motivo para colocar toda a culpa da minha irritação. E o culpado é meu livro.
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