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domingo, 29 de janeiro de 2012

Desabafo

Eu quero ser uma escritora, mas acho que primeiro preciso aprender a ser mãe.

Hoje o sol brilhava forte la fora quando eu acordei, perdido num céu azul que fez meus olhos brilharem. Ganhei, de bom dia, um abraço apertado ouvindo a voz suave da minha filha no meu ouvido. Levantamos e fomos preparar o café da manhã para nós e para todas as bonecas dela. Sentamos todas na mesa.

Sim. Tinha tudo para ser um domingo perfeito. Íamos almoçar no shopping, e depois brincar no bosque que tem bem em frente ao prédio onde moramos. Enquanto eu ia trocar de roupa, e ela me pediu para colocar um desenho para ela assistir. E foi exatamente nesse momento que eu vi a tela da tv, de led, que eu ainda não paguei nem a metade, pintada de esmalte.

Aí teve toda aquela parte onde eu briguei com ela, depois me acalmei, conversei, expliquei (de novo) e a vi com os olhos cheios de lágrimas arrependidas. " Por que, filha? Pra quê?". Ela apenas chorou, sem respostas.

Detalhe: ela já riscou essa mesma televisão com uma chave de fenda. E eu já conversei um milhão de vezes, sem brigar (juro). Expliquei que não podia fazer aquilo e porque não podia fazer aquilo. E ontem, quando chegamos em casa, eu disse: "pode brincar o quanto quiser, mas não coloque a mãozinha na televisão, tá?". 

Demorou algumas horas pra eu conseguir limpar, mas agora, me sinto péssima. Não mais pelo esmalte em si. Mas por ver minha filha crescendo sem que eu consiga ensinar o que eu preciso que ela aprenda. Coisas pequenas sim, mas eu não tenho com quem dividir as broncas que preciso dar nela, nem ninguém para me dizer se eu me excedo ou se estou sendo light demais com ela. O que exatamente eu devo fazer? Como agir?

Existe um monte de cursos e livros que me ensinam como escrever bem. Mas onde eu encontro um manual que me ajude a ser uma boa mãe? Será que sou? Será que um dia serei? E, de acordo com as minhas atitudes, o que a minha filha vai ser quando crescer?

Sim. Foi apenas uma molecagem. Apenas mais uma bagunça. Apenas mais uma coisa que ela estragou, mesmo porque ela tem apenas 4 anos. Mas, não sei exatamente porque, isso me afetou de uma maneira inexplicável. E eu não estou mais brava... Ainda que ela tivesse quebrado a porcaria da televisão em mil pedacinhos, eu teria saúde e disposição para trabalhar e comprar outra.  Mas estou triste. De fato, tentando esconder algumas lagrimas que insistem em escorrer.

Eu não achei que era fácil ser mãe. Mas também não sabia que algumas coisas, em certos dias, me deixariam tão devastadas assim.

Ainda quero (e vou) ser escritora. Mas acho que por hora, preciso aprender a controlar meus sentimentos.


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Para você, R.A.C.

Nenhum livro, nenhuma poesia, nenhum pensamento pode exprimir melhor o que eu sinto por você do que esta música.



Porque nós
Éramos célebres líricos
Éramos sãos
Lúcidos céticos
Cínicos não
Músicos práticos
Só de canção
Nada didáticos
Nem na intenção
Tímidos típicos
Sem solução
Davam-nos rótulos
Todos em vão
Éramos únicos
Na geração
Éramos nós dessa vez
Tínhamos dúvidas clássicas
Muita aflição
Críticas lógicas
Ácidas não
Pérolas ótimas
Cartas na mão
Eram recados
Pra toda a nação
Éramos súditos
Da rebelião
Símbolos plácidos
Cândidos não
Ídolos mínimos
Múltipla ação
Sempre tem gente pra chamar de nós
Sejam milhares, centenas ou dois
Ficam no tempo os torneios da voz
Não foi só ontem, é hoje e depois
São momentos lá dentro de nós
São outros ventos que vêm do pulmão
E ganham cores na altura da voz
E os que viverem verão
Fomos serenos num mundo veloz
Nunca entendemos então por que nós
Só mais ou menos
(Marcelo Jeneci)

Voltando à terapia

Sim. A minha intenção, ao criar esse blog, era mesmo contar a minha história. A história da menina que (sabia) queria escrever. A menina que brincava com as palavras. E a menina que um dia alguém descobriu que poderia sair da tela e virar páginas. Ainda é. E eu ainda quero ser. Noite escura insone, sonhos claros como o sol.

Eu bem tentei não mudar o foco, mas o fato é que eu simplesmente não consigo ficar sem o meu cantinho terapia. 

Hoje, peço licença. Nem sei a quem, nem sei se há alguém. Mas peço a mim também. Porque saudade é pra quem tem. Falo daquelas coisas que a alma sente, e que não se nomeia, posto que o sentimento que me rodeia também a mim me desnorteia. E a mente pede: escreva. 

Difícil expressão daquilo que não tem forma. Contudo, ocupa espaço. E o faço de maneira errada. Certo seria um outdoor, um dó maior, um sinal melhor. 

Continuo tentando, com quase todas as minhas forças, ser o que não sou. A independência e indelicadeza são apenas os meus esconderijos preferidos. Sentimentos preteridos. Amor escondido. Incompleta. Sou a romântica que nunca admite sê-lo. E desejo. Não carne, mas transcendência. Sei quem. Cada dia um novo mesmo alguém, que ronda e sonda. Encontrar(-te-)ei?

Vejo-me mais uma vez perdida, mas desta vez entre as coisas que já achei. Tudo em minhas mãos, e eu sem poder cerrar os dedos. Um mundo em minha frente, mas eu ainda do lado de cá. Do lado de cá da muralha, e um coração que vez por outro se estraçalha. Migalha. 

Espera. Acalma-te. Não anseia tanto assim. Será que existe uma fórmula para fazer tudo isso funcionar? Ensina-me?

Embalo-me. Seco-me. Desvio-me. Vou, mas fico. E vou, mas volto. Sei bem onde quero estar, mas nem ao menos permito isto desejar. As mesmas situações, vistas de outros ângulos. Um e outro você que entra e passa pela minha vida. Passa. Deixa o que eu não quero ter, toma-me o que eu não quero dar. Um e outro você. Tudo meu, nada meu.

A inspiração que me faz conexão. Sou o que resta. Penso em você e quero. Mas quem é você hoje? Não. Engana-te. Outro corpo, mesmo escopo. Sou tóxica: afasto de mim aquilo que mais quero bem. E não sei lidar. Não sei falar. Sou escrever. E seria mentira dizer que não me importo se vai mesmo ler. Porque em verdade, queria que já soubesse.

Longa data. E eu nunca me desencantei dos teus encantos. Que vi de longe. Senti de longe. E dou-te, mais uma vez, aquilo que um dia já te dei. Sei que aceita. Mas és como eu. Certamente agora também se arrepende. E se... 

Porque é tão difícil entender que algumas coisas não precisam ser entendidas? Faça tu. Que eu faça. Mas não quero mais que um outro dia se acabe e, de longe, os pensamentos se encontrem. Conversão. Reversão. Aversão. Paixão. 

Sabes? Saiba então: sinto sua falta. No fim das contas, mais uma vez, eu vim só para a despedida.

sábado, 21 de janeiro de 2012

A resposta do leitor

Eu levei uma bronca. Um tapa na cara, com luvas de pelica. E nem me dei conta do quanto eu estava precisando disso.
Como já muito bem disse Zeca Baleiro, “vida, vida, noves fora zero”. Sem saber, e sem querer, eu fui extremamente injusta com meu leitor. E, como a palavra proferida nunca volta, o que me resta é tentar a redençao. Eu definitivamente não sei como fazer isso senão com mais palavras. Espero não estar cansando-o.
Foram poucas as frases que eu tive em resposta à minha suposta perda, mas eu acho que consegui tirar delas tudo aquilo que elas queriam dizer. Eu não conseguiria ter sido tão objetiva. Ao contrário de mim, meu leitor é simples. Eu, pronome indefinido. E confesso que estou tendo dificuldades em deixar este texto claro como deveria ser. Não será, provavelmente. Mas não me custa tentar.
Esta sou eu, abaixando a cabeça, e pedindo perdão publicamente.
Eu errei, primeiramente, ao chamá-lo de meu. Não por não acreditar que o tenho (ou tive), mas por tornar posse aquilo que é sentimento. O que eu sou, sabes. Máscaras nunca foram necessárias desde que deixamos de lado os personagens. Enxerga meus olhos como um diário, e neles me folheia, passeando a cada dia pelas minhas noites. Desncessário saber onde estou para compreender, depois, por uma breve leitura, que eu sempre estive maquinando e recriando. Recreando. Mina de letras, que se unem muitas vezes sem a minha permissão. E por isso, perdão.
Eu errei, ainda, em insistir que lesse o pedaço do meu coração. Parcial. Sem espaço para argumentação. Apenas me deixei levar. Perguntou-me se era verdade ou “tipo”. Não sou tipo. Não com você. Já disse outras vezes que preferia não saber escrever se isso implicasse em não sentir tudo que sinto. Mas sou tormenta. E muitas vezes nao tenho consciência de que os ventos fortes que sopram ao meu redor respingam a minha dor onde não deveria jamais haver qualquer dissabor.
Tentativa desesperada de manter seus olhos sobre os meus escritos, ultrapassei uma barreira que eu sempre soube existir. Se vai me ler, que leia o que eu tenho de bom. Você é muito (ou quase tudo) que me faz sorrir. E em sorriso, sou a minha parte boa. Desejo apenas que continue me decifrando, porque o faz como ninguém.
Finalmente, errei porque deixei transparecer apenas o que me dói na tua ausência, sem dizer, contudo, que sempre em mim tu és presença. Não te quero diferente, mas que seja sempre em mim crente. Não te quero mudança, mas que faça parte da minha andança. E não te quero mais do que te tenho. Leitor. Amor.
Peço licença ao poeta Marcelo Jeneci para parafrasear uma de suas canções. Algumas vezes, eu gostaria de ter escrito aquilo que um outro alguém já escreveu e expressou-me muito melhor que eu mesma teria capacidade para fazer.
Não mais te darei flores, porque elas murcham e morrem; nem te darei presentes pois envelhecem e desbotam. Não te darei bombons, porque eles acabam, eles derretem; nem te darei papéis pois rasgam e borram. Não te darei discos porque eles riscam e arranham.
Farei, mas não te darei. Guardarei. Ou apenas esquecerei. Como esqueço toda a dor que de fato eu sinto. Some tudo quando em você eu apareço.
Mas dar-te-ei os sorrisos em textos, e desejarei que os olhos meus sejam os olhos teus.  Porque esses embalam, mas esses ficam.
E dar-te-ei a mim mesmo agora, e serei mais que alguém que vai correndo para o fim. Essa morre, essa envelhece, acaba e chora, desespera. Essa vai, mas essa volta.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Perdendo meu leitor

Pequena que sou, na minha insignificância, hoje senti uma pontinha de dor nova e diferente no meu coração. Como uma criança que chora por ver quebrar seu brinquedo favorito, eu chorei lágrimas secas por perder o meu leitor. Meu primeiro e único leitor. Como previsto, escorreu, como areia, por entre meus dedos.
E eu não me recordo de ter fechado as mãos. O que é meu não precisa ser preso a mim para meu permanecer. Mesmo deixando livre, não o tenho mais. Sem poder fazer nada, assisti de camarote meu leitor voar, e depois voltar, mas não era mais meu. Foi um dia?
Mente cheia. Mas o que eu escrevo tem ficado guardado, escondido. Empoeirando. Envelhecendo. Ocupando espaço. Perdendo sentido. E, o mais triste, ganhando desprezo. Não faz mais tanta diferença como um dia fez. E eu que não achei que me faltaria um dia vontade de escrever, observo-me sentada procurando palavras que antes brotavam dos meus olhos e tomavam forma sob uma folha de papel em branco.
Ou a folha amarelou, ou as palavras fugiram de mim. Ou o meu leitor me abandonou. Ou tudo junto.
Posso afirmar que fui uma pessoa de sorte. Tive alguém que conseguiu entender de mim mais do que eu escrevi. Leu-me a alma. Decifrou-me os olhos. Derrubou-me enquanto barreira. Acreditou-me o sonho. Interpretou-me como ninguém. Conquistou-me o coração. Mas, por fim, desencantou.
Insistente que sou em acreditar nas coisas que não podem ser verdadeiras, sorri. Mas o sorriso não era meu. Nada é. Nem mesmo as minhas palavras. Deixam de ser minhas no exato instante em que exteriorizam aquilo que um dia esteve somente aqui dentro. Como a água da chuva, passou. Foi-se embora o meu leitor.
Outras rimas talvez o impressionem mais. Alguém mais sem nexo que eu talvez esteja tentando demonstrar outros ângulos da mesma escuridão em que vivo. Outra luz talvez brilhe mais. Ou talvez (o mais provável), meus dramas tenham se tornado monótonos. Repetitivos. Cansativos. Não sou tanto quanto me imaginou ser.
Chego a dizer. Perguntar. Procurar. Mas ouço de volta alguns risos. Comentários evasivos. Em menos de três minutos não é possível que tenha lido ou entendido porque considerei-o lindo até a página cinco. Nem mesmo chegou à página cinco. É tudo sempre igual, por que ler mais uma vez?  
Fato é que eu não medi direito a intensidade das ondas que se quebravam na minha praia. Deixei-me levar pelo barulho do mar. E enquanto achava ser o sal, eu era (eu sou) apenas areia. Um grão, em meio a tanto outros. Em meio a tantas outras.
Senti-me ainda mais perdida quando disse que eu não deveria fazer nada. Sim. Racionalizo. Emocionalizo. E entendi da minha forma. Sempre foi assim. Não causa mais estranheza. Perdi meu leitor numa noite em que resolvi (por burrice) questionar o sentido de uma frase. E ao fim, concordamos, eu e ele, que aquela conversa seria melhor se nunca tivesse acontecido. Mas ela aconteceu.
E agora, os dias se passando, e tudo de mim se afastando. Não o prendo mais com frases minhas. Nem gestos. Nem nada. A ausência não fez no outro lado o mesmo estrago que fez do meu. Tudo continua igual, e, ainda assim, eu sinto tudo assim igualmente diferente.
Perdi meu leitor. E com ele se foi também o meu amor.
  

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Poetizando na madrugada

"Mais uma noite de insônia.
Mais um pensamento com gosto de amônia.
Mais de mim.
Assim.
Sem fim.

Mais da mente que voa.
Mais imaginação a toa.
Mais de ti.
Mas não aqui.

E no mais, me faço menos.
Provo dos meus próprios venenos.
Já não mais creio.
Anseio.
Devaneio."

Sim. Esta sou eu insone de novo, as quatro da manhã.

Fico quieta, na minha, um tempão. E justo quando resolvo abrir os olhos pra dormir, vejo marcas de quem eu não queria ver.

Solução: escrever.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Desconfianças

Os dias continuam passando. Lentamente.

Sem notícias ainda, mas a falta delas era desde sempre esperada. Aguarde até que a pessoas de férias retorne. E, enquanto isso, perca o sono questionando-se quem ou o que você é.

Obedeço.

Percebo claramente os sinais da abstinência da escrita na minha vida. A mente começa a faltar em espaço e a confundir-se em devaneios. Impossibilitada fisicamente de sentar e deixar os pensamentos ganharem forma em palavras, eu apenas insônia. Busco alternativas. Rotas de fugas. E sei que não há caminho por ali. Mas caminho.

Na noite, as coisas ficam mais claras. E isso não é, em absoluto, positivo. Prefiro não ver, pois assim não me confundo. E exatamente quando penso que estou me estabilizando, terremoto.

Eu prevejo a decepção, e, furacão que sou, não espero. Vivo. E dói a ponto de me fazer chorar. Eu sei a quem culpar. Posso hoje mesmo sobre isso discursar. Soluços cortam o silêncio e me fazem ver que o que eu vejo ainda não existe.

Antecipo.

A eterna loucura de saber a resposta da pergunta, mas ainda assim torcer com todas as forças para que seja diferente.

Ausente. Provável que é isso que me faz descrente. Já não sei mais se quero que retornes, ou que te tornes permanente espera. Mas, mesmo sem querer, novamente confundo o que desejo com quem desejo. Por que não te acalma, coração?

Anseio.

É, talvez, só mais um efeito dos remédios.