Era pra ser um texto completamente diferente. Era pra
ser lírico, prático e intencionalmente didático. Típico. Mas tudo muda e eu não
sei ficar muda. Inquieta, aflita, ilógica. Súbita.
Múltipla. Várias faces, nada fáceis.
Poucos dias, muitas coisas. Muitos dias, tudo o mesmo.
E o mesmo sempre mais. Dias estranhos. Tristes entranhas. Sorrisos e manhas.
Finalmente, eu inteira.
De repente, outros olhos. Um pouco da razão estava
comigo o tempo todo. Certamente, ao menos um pouco. Assim não fosse, teria
sumido. Mas volta. Sempre volta. Volta bem. Volta maior. Volta diferente. Volta em
volta. Sem escolta.
Vi o outro lado. E o outro lado é não é ao seu lado.
Mas somos do mesmo lado. Somos o mesmo lado. Num mundo círculo, você é o canto onde me
encanto e todo o resto espanto. Ou seria todo o resto pranto?
Não há mais todo o resto. É tudo o mesmo. Tudo eu e
você e nós e sós. Sem contras, só prós.
Alimenta-me. E esquenta-me. E do frio já não tenho
mais medo. Temos tudo. Falta-nos
apenas o tempo. Tento. Intento. Intenso. Tenso.
Era e é tudo auto-proteção. Porque não me acostumei
ainda a ter um qualquer coisa tão completo. Sem nome. A palavra amor é pequena
demais. Você em absolutamente tudo. Eu sem onde me esconder. Querer. Viver.
Manter.
É tudo mesmo possível?
Há tempos, deixei de ser escrita.
Primeiro, porque estava encantada. Depois, machucada, ando fugindo das
palavras. Não queria organizá-las, porque já sabia o significado que juntas elas
iam ganhar. Hoje, resignada, hora de fazer a mente trabalhar. Transbordar.
Produzir. E apenas rir.
O mundo é preto e branco. Nós arco íris.
Bonito nas palavras, mas, condicionada a
enxergar e discernir os tons de cinza, perco-me no colorido do que teoricamente
não pode ser. Especialmente quando me faz acreditar que aquilo que nunca
poderia agora pode. Pode?
Não há certo nem errado. Isso eu já
aprendi. Mas um tudo, que é só meu, e que se intersecciona com o seu tudo.
Olhos e olhares, braços e abraços, pele e laços. Onde começa o que não
terminou? E porque pensar no fim daquilo que nem sequer começou?
Longe ou perto de você, os dias são vidas.
Todas as horas são longas. Umas param por felicidade, outras por ausência. Mas até
então, eu era a minha única leitora. Assídua: previsão. E sempre te mostrei, mas
só agora você parece querer ver.
Quantas vezes eu te disse que não sou
assim tão doce? Quantas vezes eu te disse que quando estou machucada sinto
necessidade de machucar também? Reflexo de uma vida inteira de por trás. Sempre
no pano de fundo, sempre coadjuvante da minha própria história. Abrindo mão. E
ganhando não. Mas enquanto respondo, sinto. Pior seria ignorar.
E confesso: ja tentei. Por (algumas) vezes
passou pela minha mente te deixar de lado. Não de deixar por completo, mas te
deixar esperando. Tenho sim vontade de que você sinta o que eu sinto e como eu
sinto. Porque talvez assim você entenda aquilo que eu tento, mas não consigo
explicar.
É realmente tão difícil? Para mim, é luz.
Mas se exteriorizo, escurece. Porque sou rodeios. E você sabe de mim.
E então, num dia ao seu lado eu descobri a
emancipação da escravidão mental. Por que teatro? Venha: olha tudo, desde os
ensaios até a peça completa. Não me tens a personagem, mas a pessoa da atriz.
Por isso Lully de verdade. Como ninguém jamais teve ou viu. Você agora meu também
leitor, meu expectador. Pode e deve opinar, mudar, criticar. Você eu escuto,
exatamente porque me escutou. E me decifrou.
Hora de trocar energias: dá-me o que tem
de bom, e eu com isso ocupo espaço do que há de ruim. De mim. Enfim. Eu afirmo
que quero, mas preciso que entenda quando a parte velha falar alto. Medo
absurdo de perder aquilo que pra mim sempre foi inimaginável ter: amor verdadeiro.
“Won't you help me sing these songs of freedom?
Cause all I ever had: redemption songs”