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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Agora só me resta aprender o silêncio


Não calo quando devo. Sempre foi assim.

Em alguns momentos, não consigo compactar os sentimentos, e não dá tempo de pegar um papel e uma caneta. Um tudo dentro da mente que resulta em nada do lado de fora. Apenas prossigo. Automaticamente. Automática mente.


E antes que eu perca-me em pensamentos meus, como quase sempre acontece, pronuncio. Anuncio. Arrepio. E depois me encolho e aguardo o frio.

O meu tudo é muito. Dou conta daquilo que chamo para mim, e quando não dou conta sozinha, renuncio. Porque a dependência me machuca devagar e constantemente. Falta-me o tempo para encontrar-me perdida. Ou perder-me. E é isso.

Já aprendi muitas coisas. Mas ainda me falta aprender o silêncio.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Nulo

Pela primeira vez, experimento, acordada, a sensação de estar anestesiada. Anestésico que paralisa os sentimentos. Olhos parados. Nulo. Mente bloqueada. Zero. Dores contidas. Apatia. Cansaço que teve a permissão de tomar conta de todo o corpo. Inércia.

Impeço o sorriso, porque assim não sinto o quanto o choro é amargo. Pelo menos assim não dói.

E sei que essa não sou eu. Mas mesmo assim, insisto. Preencho-me daquilo que não me completa, ocupações vãs. Carga extra de trabalho mais que bem vinda em tempos de depressão que se aproxima. Todos os espaços da mente ocupados, e nenhum espaço para pensar na cores daquilo que não enxergo mais.

Frusto a calma, porque assim não sinto a urgência da ansiedade. Pelo menos assim não dói.

No automático: sentimentos todos represados. Trancados e inundados. Para não sentir o ruim, é preciso esconder também o bom. E o que sobre é fuga. Um tanto de frio num coração que foi feito quente. Impassibilidade. Várias faces de uma mesma eu, mas que no fundo sou apenas outras.

Adio o reenconto, porque assim não sinto as pontadas da ausência. Pelo menos assim não dói.

Cansada demais para não me fazer indiferente. O que não posso mudar, a mim resta apenas esperar. Inerte em meus próprios movimentos.O tudo bem diante de mim, e eu por enquanto só enxergando o que me resta de nada. Porque quando o que eu posso ter depende de um agir que não cabe a mim, eu me inquieto. E depois de tanta inquietação é minha hora de tentar a insensibilidade.

Prejudico os momentos bons, porque assim não me assusto quando retorno ao infinito de momentos ruins. Pelo menos assim não dói.

Blindando-me. E sendo algo que nunca fui. Expulsando tudo e todos que tentam entrar no meu mundo. (Re)construíndo os muros que me protegem do que está ao meu redor. De volta ao meu mundinho. E não nego a difículdade de voltar para o lugar escuro e quieto de onde eu nunca devia ter saído. Ou de onde eu pelo menos ainda não devia ter saído. Um amanhecer no meio da madrugada. Fora de hora. 

Impeço o pensamento no amanhã, porque assim não sinto a aflição do hoje. Pelo menos assim não dói.
 
E por hora, apenas música clássica. Permito-me voar para longe na companhia de algumas notas tristes e solitárias.Continuo a mesma. Apenas guardei-me. Numa caixinha. E o que ficou do lado de fora é apenas nulo. 

E me engano afirmando que pelo menos assim não dói.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Voltando aos trabalhos

Dois primeiros livros praticamente prontos.

Luly de volta à ativa. Bora escrever!


Brincando com matérias diferentes agora, mas o projeto continua o mesmo. E está ficando lindo.

E eu acho que realmente me encontrei nessa coisa de escrever. Quero fazer isso pra sempre. Toda a minha vida. Toda essa minha vida. 

Aceitei, de uma vez por todas, que eu tenho um dom. O "dom da redação". E não vou desperdiçá-lo. Pelo contrário. Vou abraçá-lo muito forte. 

Nesse sentido, achei um texto antigo, que eu escrevi no ano passado, mas que ainda serve, com algumas adaptações.

Vulnerável... Atingível... Mudança... Um pé que voa, e o outro que está colado no solo. Pra quê tantas perguntas? A resposta é sempre uma nova pergunta. Que não cala. Que não se responde. Porque não há resposta. Há? Há palavras. Há escrita. Há eu.

As vezes, não permito que a minha loucura sem nexo fale mais alto. E aí ela grita. E vira letras organizadas, que forma lago (ou algo) que se pode ler. Ataduras soltas. O que eu prendi, na verdade sempre esteve livre. E sim... eu sabia disso. Finjo, e acredito no meu próprio fingimento. E isso me faz bem. Me extasia. Me fascino com aquilo que eu sei que não é fascinante. É mar. É muito, e é nada. Mas é onde eu quero estar. Ondas que se transformam em outra pergunta: onde eu quero estar?

Escondo-me sempre no mesmo lugar porque eu sei que ali, mesmo perdida, eu vou me encontrar. Eu sou o meu próprio porto seguro. Inseguro. Invertida. Desordem. Mas, ainda assim, meu porto. Eu meu. E em mim, tudo aquilo que se tornou meu. E se tornou eu.

Sou exatamente como Oswaldo Montenegro. Metade grito, metade silêncio. Metade partida, metade saudade. Metade o que eu ouço, metade o que calo. Metade o que eu penso, metade vulcão. Metade a lembrança do que fui, metade não sei. Metade abrigo, metade cansaço. Metade platéia, metade canção. Metade amor, e a outra metade também.

Talvez, eu seja mais. Porque eu tenho mais do que apenas duas metades.

Metade sobriedade, metade adolescente. Ou, quase sempre, a mesma metade é as duas coisas ao mesmo tempo. E, ao mesmo tempo, outra coisa diferente. Meio texto, meio forma, meio cor, meio tudo.

Metade vazia, e metade transborda. Mas o que transborda não vai para a metade vazia. Escorre pelos olhos, estende-se pelos dedos. E se transforma em palavras. Escritas, mas quase nunca ditas. Porque metade é tempestade. Mas só a metade.

Eu não sei me definir. Porque a cada minuto eu sou uma. Sou tantas. Sou nenhuma. Sou minha. De mais ninguém. Mas me divido. Metades incertas, porque não são exatamente metades. São frações, que juntas não formam um inteiro. Meia inteira. Inteira e meia. Intensa e meia.

Acordo feliz, e em menos de um segundo me deixo atingir por uma enxurrada de pensamentos complexos demais. Mas o meu oposto não é o contrário. Eu não fico triste quando deixo de ficar feliz. Eu fico apática, e a minha apatia é cheia demais pra ser vazia.

O que eu quero não me adianta. Porque o que eu não quero sempre vem. Mas continuo querendo. E só por querer, já o tenho como meu. Ego(ísta).

Mesmo sendo duna, que se move com o vento, sou montanha parada sempre no mesmo lugar. Controlo o que me rodeia, mas não controlo o que me preenche. Ou, no fundo, não controlo nada. Mas deixo uma metade acreditar que estou no comando. Porque a outra metade é perdida. 

Inconstância. Controvérsia. Incomum.

O meu sim geralmente é não. E o talvez certamente é sim. Não aceito o não. Mas o mastigo. Indigestão. 

Insista. Duvide. Me tente. Me prove. Me teste. Porque é isso que me move. Mas que tudo isso venha de apenas um. Da minha metade. Meu.

Preciso de tudo na hora, mas me confundo quando me pergunto qual é a hora. Atrasada. Adiantada. Fora do compasso. 

E, como nesse texto, faço tudo parecer imenso. Mas não é. Não é nem metade.



terça-feira, 4 de setembro de 2012

Agora vai



Pronto. Arquivo liberado. Agora vai. Será que vai? Não consigo deixar de me perguntar: isso é normal? Dói assim mesmo? Putz! Pra mim foi um parto...

É bem igual o nascimento de um filho. 

Quando você descobre que está grávida, vem um misto de sensações e medos absurdos e deliciosos. Você faz e refaz umas cinquenta vezes o teste para ter certeza. E mesmo com todos os testes positivos, ainda fica uma dúvida. Será?

Quando você é chamada para escrever um livro, você fica meio boba também. Não acredita que vai dar conta, ou que o convite é verdadeiro. E pensa e repensa se realmente quer fazer isso, mesmo depois de já ter aceito o desafio. Será?

Aí, você descobre que a gestação dura quarenta semanas, e não nove meses. E tem certeza absoluta que não vai dar tempo de preparar tudo neste tempo. Começa a se sentir estranha. Chora. Enjoa. Fica com fome. Fica com sono. Fica com calor, com frio, com calafrio. Cabelo que não pode pintar, remédio que não pode tomar. Barriga, celulite, estria.

Aí, você começa a escrever. E se perde, porque já não sabe exatamente sobre o que deveria falar no seu livro. Ou tem vontade de falar sobre tudo. Perde a noite e o dia. Deixa de lado algumas muitas coisas. Cansa. Sente raiva. E passa a ter certeza de que você é a única pessoa no mundo que não poderia escrever, porque você não sabe escrever. Fica tudo horrível. Mesmo assim, continua. Já foram cinquenta páginas, vamos tentar mais cinquenta. Ponto, vírgula, parágrafo.

E quando vai chegando a hora do bebê nascer, milhões de pensamentos: vai nascer perfeito? Como serão os cabelos? Os olhinhos? As mãozinhas? Não, não era apenas uma manchinha na tela do ultrassom: era meu bebê. Arrumar a mala para levar para a maternidade, mesmo sabendo que ainda faltam algumas semanas. Mas vai que ele resolve nascer antes? Mau humor e felicidade. Pés inchados. Chega a hora.

E quando vai chegando o capítulo final, um medo de terminar. Porque é possível que alguém leia. E podem te julgar. E vão mesmo te julgar. As olheiras estão escuras, o assunto está ficando chato. Você não aguenta mais, e, ao mesmo tempo, não quer acabar. Porque o que vai fazer quando acabar? E pensa em recomeçar do zero, mas não dá mais tempo. Mais duas páginas. Chega o prazo.

Hora de ir para a maternidade. Um pouco de dor e a certeza de que quando voltar para casa, não vai mais estar sozinha. Trará um serzinho nos braços. Vai doer? Sim. Vai doer. Mas é a dor mais gratificante do mundo. E o parto pode demorar ou não, pode complicar ou não. Mas você nem liga. Ao mesmo tempo, uma explosão de felicidade e o medo de que a partir do nascimento, ele não estará mais protegido dentro da sua barriga.

Hora de enviar o arquivo. Um pouco de saudade e a incerteza de que ficou tudo certinho. Podia ter revisado mais uma vez. Podia ter excluído um capítulo ou incluído outro. Vai doer? Bom. Em mim doeu. Senti um vazio infinito, porque não tinha mais o que fazer nas minhas noites. Voltaria a dormir. Mas quem disse que eu queria dormir? Ao mesmo tempo querer terminar, e quando termina, não querer que tivesse terminado.

E, finalmente, sentir sua cria nos seus braços. Amor indescritível que você nem sequer sabia que existia. É seu. Você que fez. Carregou no ventre pelo tempo necessário e agora pode chorar por ver que ele é lindo. Mais lindo impossível. Quem foi que disse que recém nascido é feio? O nosso, nunca é. 

Eu ainda não cheguei no finalmente do meu livro. Ainda comparando com um nascimento, eu estou agora na fase em que ele já nasceu, e eu já constatei que ele é perfeitinho. Mas a pediatra levou ele para o berçário. E eu preciso esperar que me tragam ele de volta, pra poder, aí sim, mostrar para todo mundo e dizer: é meu.

Quase realizada. Quase uma escritora.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Irritação de autora

Então é assim: você quer escrever. Aí, você escreve. E aceitam te publicar. Até aí, lindo. 

Mas não é o fim. Depois dessa parte legal vem o inferno. Eles mudam seu texto sem te pedir. Cortam coisas. Incluem coisas. E te mandam. E você, que achou que nunca mais na vida fosse ser obrigada a ler o que escreveu, fica sem escolha. Lê, e acha tudo horrível. E tem vontade de abortar a missão do projeto. E quer reescrever tudo, ou simplesmente jogar fora o arquivo.

Alguém caridoso te convence que tá tudo lindo. Você aceita, e manda de novo, pedindo gentilmente que sejam feitas algumas alterações. 

O arquivo volta. Com tudo errado de novo. Não era vírgula, era ponto! E parágrafo! Quem mudou isso aqui?

Você caminha novamente pelo calvário, carregando a sua cruz, que parece ainda mais pesada. 

Envia de novo, pedindo (não tão gentilmente mais) as alterações.

E ele volta.

Mas que diabos essa vírgula continua fazendo aqui? ERA PONTO!!!!!

Sim. Eu me irrito. Profundamente. Sou dessas. Chata. Chata mesmo! Não sou simplesmente chatinha não. Sou das mais chatas do mundo.

E já que aqui eu posso escrever sem ninguém me censurar ou mudar o meu texto, eu me dou o direito de explicar.

Livro é filho. Você gera ele dentro de você e o trabalho do parto é doloridíssimo. Você cuida dele com carinho. Amor. E dá dor no coração de vê-lo partir. Agora pensa comigo: você ia permitir que pintassem um braço do seu filho de azul? Ou que lhe tirassem o umbigo? Ou ainda que colocassem dentes de leão marinho nele?

Mas são alterações tão pequenas! É só um ponto final!

É só um ponto final na casa do $%&*. E ainda que seja só um ponto final, é o meu ponto final. Eu quero ele ali! Não vou deixar meu filho sem umbigo nem aqui e nem na China. Desculpa.

É. Eu estou irritada mesmo. E nem vou citar os fatos de que demoraram mais de vinte minutos para pegar meu carro no estacionamento hoje, ou que o trabalho que eu fiz foi tratado como brincadeira, ou que as contas deste mês somaram um valor bem maior do que as receitas, ou que eu vi (e sempre vejo) conversinhas desagradáveis e desnecessárias por aí. 

Hoje estou feliz porque tenho um único motivo para colocar toda a culpa da minha irritação. E o culpado é meu livro.

domingo, 2 de setembro de 2012

Desentendendo Luly

Inentendível. 

Sou assim. Antes, compreensível. Hoje, totalmente oposta. Ao que? Não sei. Nem saberei. Nem eu, nem ninguém. Ainda bem.

Não tem conotação negativa. Apenas explosão de tudo e nada, que resulta em sorrisos e lágrimas não de dor, mas de amor. E cor. Colorido que escorre e decorre dos dias que se transformam em noite. E das noites que nunca acabam. Apenas entram para a história. Outra página de um livro que não se escreve, mas se sente.

Confundo o mundo. Não se pode esperar nada de mim. Mas você, você me tem. Portanto, não é necessário que espere. Apenas tenha. 

É para você. Sou para você.

A busca não acaba, porque não posso mais ter certeza do que quero. O meu desejo pelo amanhã não acaba quando efetivamente chega o amanhã. Porque o depois é nunca. E eu quero chegar lá. 

É um tanto quanto complexo. E eu tenho tentado resolver os conflitos e todas as coisas de maneira não traumática. Contudo, sem sucesso, anuncio agora a minha opção por outros caminhos. Sou assim mesmo: surpresa. Ainda que a mesma, sou diferente. E Luly diferente sorri.
Eu, no meu mundo, sempre lutando para me mostrar dura. Precisava aguentar as adversidades do caminho. E me tornei cada vez mais descrente para poder continuar crendo. Você, apenas sorriso. A sua vida era simples, e eu admirava.
Mas era tudo diferente, não é mesmo? Tudo contrário. Simples que se fez complexo. Sorriso que se fez lágrima. E vice versa. Sempre vice versa. Minhas dores escorreram, e se fizeram nas suas. O eu virou você. E agora, somos nós. Um. Únicos. E para sempre. Tão eterno quanto pleno. E ninguém é capaz de compreender o que tudo isso significa. Porque não sentem. E não têm. Nem nunca terão. Apenas Luly. E Luly só você tem. 
Lembro-me do tempo em que eu não sabia o que eu seria. Falava a palavra futuro como se ela fosse distante, sem saber que o futuro não existe. É tudo hoje. Ainda não sabia que as pessoas são, na sua essência, más. E que ninguém ajuda de graça. E eu precisei. Eu confiava nas pessoas. Ingênua.
Hoje encontrei. Alguém que não se mede, nem se pede, nem se despede. Meu. Somente.
Simulando tranquilidade, deixei mais uma vez meus sorrisos enganarem o mundo. Sou boa nisso. Hoje dei de cara comigo mesma. Vez por outra, tenho que fazê-lo. E o que vi no espelho não foi, como nunca é, bonito. Não foi o que estava escrito, nem o que por mim dito. Um mito. Aflito. Acúmulo de sensações e experiências, que de quando em quando, ou por ser quanto ou tanto, apenas despejo. Meu eu nao mais a mim adstrito. Defazendo-se. Arenito.
Mas não expresso a tristeza que agora não tenho. Embora intensa, sou leve. 
Desisto de me buscar na dor. Ela existe. Mas não vai me vencer. E eu, incompreensível continuo. Mas amo. E sou feliz por isso.

O olhar continua doce e distante. Sinal de que a chuva, onde quer que esteja, pode agora lavar outras dores. E tudo ficará seco e silencioso novamente. Ciclo. Porque quando você tem a intenção de matar alguma coisa, e é forçado a fazê-lo por bem ou por mal, você o fará. Mas você enterra outras coisas também.

Entendendo Luly


Era pra ser um texto completamente diferente. Era pra ser lírico, prático e intencionalmente didático. Típico. Mas tudo muda e eu não sei ficar muda. Inquieta, aflita, ilógica. Súbita.

Múltipla. Várias faces, nada fáceis.

Poucos dias, muitas coisas. Muitos dias, tudo o mesmo. E o mesmo sempre mais. Dias estranhos. Tristes entranhas. Sorrisos e manhas. Finalmente, eu inteira.

De repente, outros olhos. Um pouco da razão estava comigo o tempo todo. Certamente, ao menos um pouco. Assim não fosse, teria sumido. Mas volta. Sempre volta. Volta bem. Volta maior. Volta diferente. Volta em volta. Sem escolta.

Vi o outro lado. E o outro lado é não é ao seu lado. Mas somos do mesmo lado. Somos o mesmo lado.  Num mundo círculo, você é o canto onde me encanto e todo o resto espanto. Ou seria todo o resto pranto?

Não há mais todo o resto. É tudo o mesmo. Tudo eu e você e nós e sós. Sem contras, só prós.

Alimenta-me. E esquenta-me. E do frio já não tenho mais medo. Temos tudo. Falta-nos apenas o tempo. Tento. Intento. Intenso. Tenso.

Era e é tudo auto-proteção. Porque não me acostumei ainda a ter um qualquer coisa tão completo. Sem nome. A palavra amor é pequena demais. Você em absolutamente tudo. Eu sem onde me esconder. Querer. Viver. Manter.

É tudo mesmo possível?

Há tempos, deixei de ser escrita. Primeiro, porque estava encantada. Depois, machucada, ando fugindo das palavras. Não queria organizá-las, porque já sabia o significado que juntas elas iam ganhar. Hoje, resignada, hora de fazer a mente trabalhar. Transbordar. Produzir. E apenas rir.

O mundo é preto e branco. Nós arco íris.

Bonito nas palavras, mas, condicionada a enxergar e discernir os tons de cinza, perco-me no colorido do que teoricamente não pode ser. Especialmente quando me faz acreditar que aquilo que nunca poderia agora pode. Pode?

Não há certo nem errado. Isso eu já aprendi. Mas um tudo, que é só meu, e que se intersecciona com o seu tudo. Olhos e olhares, braços e abraços, pele e laços. Onde começa o que não terminou? E porque pensar no fim daquilo que nem sequer começou?

Longe ou perto de você, os dias são vidas. Todas as horas são longas. Umas param por felicidade, outras por ausência. Mas até então, eu era a minha única leitora. Assídua: previsão. E sempre te mostrei, mas só agora você parece querer ver. 

Quantas vezes eu te disse que não sou assim tão doce? Quantas vezes eu te disse que quando estou machucada sinto necessidade de machucar também? Reflexo de uma vida inteira de por trás. Sempre no pano de fundo, sempre coadjuvante da minha própria história. Abrindo mão. E ganhando não. Mas enquanto respondo, sinto. Pior seria ignorar.

E confesso: ja tentei. Por (algumas) vezes passou pela minha mente te deixar de lado. Não de deixar por completo, mas te deixar esperando. Tenho sim vontade de que você sinta o que eu sinto e como eu sinto. Porque talvez assim você entenda aquilo que eu tento, mas não consigo explicar.

É realmente tão difícil? Para mim, é luz. Mas se exteriorizo, escurece. Porque sou rodeios. E você sabe de mim.

E então, num dia ao seu lado eu descobri a emancipação da escravidão mental. Por que teatro? Venha: olha tudo, desde os ensaios até a peça completa. Não me tens a personagem, mas a pessoa da atriz. Por isso Lully de verdade. Como ninguém jamais teve ou viu. Você agora meu também leitor, meu expectador. Pode e deve opinar, mudar, criticar. Você eu escuto, exatamente porque me escutou. E me decifrou. 

Hora de trocar energias: dá-me o que tem de bom, e eu com isso ocupo espaço do que há de ruim. De mim. Enfim. Eu afirmo que quero, mas preciso que entenda quando a parte velha falar alto. Medo absurdo de perder aquilo que pra mim sempre foi inimaginável ter: amor verdadeiro.

“Won't you help me sing these songs of freedom?
Cause all I ever had: redemption songs”

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

"E ainda estou confuso, mas agora é diferente..."


Um dia a gente rasga, no outro a gente costura. E os ponteiros do relógio continuam fazendo seus movimentos circulares. Por mais nobre que seja a causa, o tempo não para.

Aprendendo a perdoar e a conviver com o incerto que fica mais incerto a cada dia, por aqui as coisas continuam caminhando. Para onde, não sei ao certo. Mas continuam. Uma nova insegurança a cada dia. Pilares de sustentação parecem estar bambos. E sobre aqueles que permanecem firmes, eu empenho toda a minha força no intuito de deixa-los fraco. Não adianta: sou assim mesmo. Mas só em alguns períodos do dia, da semana, ou do ano.

Três dias, três sensações, totalmente opostas e assimétricas. Divergentes. Mas dentro da mesma eu.

Dia 1: os machucados nos joelhos ainda não estavam cicatrizados, e mesmo assim eu tive que arrastá-los no chão mais uma vez para procurar todos os pedacinhos do meu coração mais uma vez quebrado. Eram muitos, e estavam espalhados por todos os cantos. Foi muito difícil conseguir montar de novo o quebra cabeça da minha vida. Dormi quando um novo dia já estava quase chegando. Exausta.

Dia 2: curativos feitos, e a certeza de que vou sobreviver, veio então a vontade de vingar. Não no sentido de fazer o mesmo com quem me fez chorar. Mas era necessário colocar as coisas nos seus devidos lugares. E eu estufei o peito, me enchi da força que sempre aparece quando eu penso que já estou totalmente fraca, e me impus. Consegui dormir mais cedo, e descansar melhor. Mas é sozinha que eu presto contas a mim mesma. Aquela força não seria irreal?

Dia 3: manhã insossa que precede um dia inteiro salgado demais. Consequências dos dias 1 e 2 começam a aparecer. Não se trata mais de tristeza ou força. É hora de decisões. Quando penso que andar descalça pela estrada de pedregulhos foi difícil, descubro que era apenas para engrossar meus pés: da metade para frente, a estrada será de espinhos.

O dia 3 ainda não acabou. E engana-se quem pensa que tudo isso diz respeito apenas a amores mal resolvidos. Diz também. Mas o momento é bem mais crítico. Vida pessoal misturando-se com a vida profissional. Instabilidade que gera insegurança. Tentativa e erro. E enquanto não sei se o que tentei ou vou tentar é certo ou errado, melhor continuar trabalhando.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Eu avisei

Então é isso. Voltei voltando mesmo. 

E o timing foi mais que perfeito. Pelo menos posso voltar a alfinetar todo mundo, sem que ninguém saiba especificamente para quem foi a alfinetada. Gosto muito de causar a sensação de "putz, será que ela sabe?" nas pessoas. Especialmente, naquelas que (acham que) têm certeza de que eu não sei de nada.

Acham que têm certeza. Bem assim. É bom, por vezes, deixar que me julguem boba. Ingênua. Provavelmente sou mesmo, em muito sentidos. Em outros nem tanto. 

Conversas em volume baixo não me causam curiosidade. Pelo contrário: não me interessam. E pior: me enojam.  Silêncios não me constrangem. Se conversa, que fluía naturalmente, cessa, posso garantir que não sou eu quem estou com vergonha ou medo de falar. 

Acho que sou muito velha. Tenho ideias fixas na cabeça, que não são passíveis de modificação, ainda que o meio externo mude completamente. Quatro meses morando por aqui, observando, analisando, avaliando. Nenhuma certeza de que estou andando pelo caminho de ouro. Talvez de outro. Pode ser. Mas opto por arriscar. 

Encontrei terra fértil pra plantar as minhas mudas. E ainda que o tempo não esteja muito favorável ao crescimento, tenho visto meus galhinhos brotando, e folhinhas verdes nascendo. É nisso que eu me apego: no que é meu. O resto, se fosse importante, não seria resto.

E aí as coisas vão acontecendo, assim mesmo. Simplesmente vão. Aceitando desculpas e justificativas para aquilo que não se explica. Concordando com situações extremamente desgastantes. Criando uma certa casca. Murinho que cresce e se derruba constantemente ao redor do meu 

Mas faz parte. Só não vale dizer depois que eu não avisei.

É uma cilada, Bino.





terça-feira, 31 de julho de 2012

Sim, ainda escrevo!

Tempo. 
Muito tempo.

E faz uma falta danada escrever. Não que eu tenha parado de escrever. Não é nada disso. Continuo viva, então continuo escrevendo. Mudaram apenas os cadernos e a cor das folhas, mas as palavras continuam me movendo. E continuam se movendo. 

Do último post pra cá, muita coisa diferente. Casa, cidade, trabalho. Até participo de reuniões atualmente. Um mundinho diferente. Com gente diferente dentro da minha mente sempre inconstante. Projetos novos caminhando melhor do que o previsto: em breve (muito em breve) poderei dizer que a minha vontade de ser escritora se materializou.  Um mundão diferente. Oportunidades que passam depressa demais, e eu ainda tímida;

Por hora, mantenho-me. É. Bem assim. Verbo sem complemento. Mas decidi que entre um trabalho e outro (porque tenho que pagar as minhas contas), vou voltar a escrever aqui. A conta sai mais barata.

Mudei e me deixei mudar. Mas a essência continua a mesma. A menininha que se faz de forte, que chora escondida, e que vive às voltas com as confusões inconfundíveis que sua própria cabeça faz. A mãe carinhosa, cansada, zelosa, que muito mais aprende do que ensina na arte de educar. A funcionária dedicada, que gosta do que faz, entrega-se ao trabalho, reclama do trânsito da volta para casa e se contenta com realizações que não são suas. A mulher que anda com cara fechada, que cuida do que é seu, que ama por inteiro, naturalmente dramática, mas que sente uma dor absurda pelas presepadas que lhe prega o coração.

Sim. A mesma. E, especialmente, a mesma insana que não consegue guardar as coisas somente para si própria. Sofro de necessidade aguda de escrever. 

E não dá pra recomeçar, depois de tantos meses, com um post que escorre sangue ou lágrima. Preciso, antes, reaprender o que é ter público. Apenas ter certeza de que a minha plateia não está de toda vazia. Uma alma viva que seja. 

Falando em alma, falando em viva, talvez um dia eu explique porque hoje não me prendo mais a conceitos materiais. Talvez um dia eu explique porque ando meio desiludida, embora a cada dia mais cheia de esperança. Talvez um dia eu explique porque as pessoas estão perdendo a capacidade de me surpreender.

Talvez.

Tem bastante página sobrando nesse caderno, também tem muita loucura sobrando do lado de cá.

É sempre bom voltar. E eu volto. Digo que não, mas sempre volto. Porque sem contar o amor da minha filha, o único que nunca me abandona ou me decepciona é o amor que eu sinto por escrever.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

(Des)construindo

Alguns dias sem escrever. Aqui. Porque no meu livro da vida, escrevo todos os dias. Tenho ido bem, nos meus escritos. Ou, pelo menos, acho que tenho. Mas ainda espero os aplausos que eu tive um dia.

E a semana começou promissora demais. Prefiro quando as promessas boas vem na sexta feira. Pelo menos, já está próximo do domingo e se eu me decepcionar (e invariavelmente eu me decepciono) uma nova semana já está próxima. O recomeço fica mais perto. E menos dolorido.

Continuo acreditando em coisas que não foram feitas para acreditar. E vivendo ilusões que não foram criadas para mim. Cada dia mais burra: penso que cresço, mas apenas me diminuo. Ainda assim, não caibo em poucos caracteres. Porque ainda que pequena, o que existe dentro é imensidão. E não tenho alternativas: apenas (te) deixo ir.

Serei novamente transformada num sorriso que me trará pequenos momentos de alegria até que novamente eu durma. Começo a sentir medo de dormir, porque é justamente no sonho que eu encontro a realidade. E não gosto dela. Não é verdade que eu transformo tudo num grande drama. A verdade é que eu realmente sinto muito grande. É tudo real. O meu real. Maravilhoso (ou nem tanto) mundo de Lully.

Pergunto-me: peço demais? Não me parece. Peço apenas o que é pouco ou normal para tantas outras como eu. Não posso ser assim tão diferente do resto do mundo. Sou? Única sim, mas isso não quer dizer que estou bem comigo na minha unicidade. Seria mais fácil ser só mais uma.

Eu quero apenas a tranquilidade de uma porta fechada de hotel. Não dormir e não me importar com isso. E deixar o sol brilhar lá foram, porque eu me esquento no escuro do meu canto. Criar segredos. E viver sem expectativas. Porque são elas que me matam.

Em meio a tantos encontros, desencontro. Perdas e ganhos desiguais. Tendências inapropriadas. Vício. Toxicidade. Eu costumava ser elogiada, hoje sou apenas ludibriada. Por mim mesma. Medos adquiridos. Dificuldade em aceitar o que eu tenho, porque nunca antes tive. Erros. Manias. Atuação. Palavras. E frustrações.

Desconstruo o que foi recém construído. E depois me arrependo. Mas faço de novo. Por que? Se não há nada aqui, não há como colocar tudo em seu devido lugar. Há? Ar. Ou a falta dele.

Sou o absurdo. Em meio a felicidade quase plena, procuro, nem que seja inconscientemente (em sonho), a porta que me leva à dor. E entro nela sem receio algum. Sabendo que inútil eu me faço melhor. Sabendo que pequena eu me faço pior. O avesso. Porque o que está na minha cara eu me recuso a ver.

Há tempos, eu não fazia isso comigo. E foi bom deixar a minha boca sentir o gosto doce. De fato, não preciso do amargo, mas me custa acreditar nisso.

Lírica.

Sou um mundo de sentimentos direcionados a um único ser, que sabe disso e tenta, de maneira louvável, me fazer acreditar que eu posso e mereço sentir tudo aquilo. E que sou correspondida. Consegue. Só que não.

Cética.

Adepta da afirmação de que não há certeza absoluta a respeito da verdade, porque o meu intelecto admite a existência de fenômenos metafísicos. Não creio nem no que sinto, que dirá no invisível. Mas vejo.

Cínica não.

Didática.

Em tudo, menos na intenção. Dificuldade de aceitar aquilo que, por mais inaceitável, é a minha concepção. Quero o que não posso, e finjo-me poder exatamentre aquilo que não quero. Ausência de máscaras quando elas deveria existir, pois me deixariam protegida.

Tímida.

Menina que insiste em se esconder num corpo de mulher. Infeliz o momento em que me fizeram descobrir que eu posso muito mais do que suporto só porque tenho forma. E sou rotulada, como qualquer outra, como uma qualquer, como qualquer nenhuma. Mas o conteúdo é volúvel demais.

Ácida não.

Recados.

Pequenos aviso colados nas minhas próprias janelas. Esqueço-me, contudo, que eu nunca olho para fora. Não me inebria ver o céu, a nuvem a lua. Porque o que é meu está aqui dentro. E só eu enxergo.

Cândida.

Castelo branco. Inocência mutilada, que, na mutilação, não desapareceu. Ao contrário: espalhou-se. E agora impregnada em mim, presa numa história feia e suja.

Múltipla ação. Não.

Ainda que não exista ninguém que nos chame de nós, eu em ti atada (ou atormentada) não me deixo mais a sós. Os rodeios e torneios das palavras ditas ou escritas ecoam por milhares, centenas ou dois. Ou um. E não foi só ontem, nem hoje. Mas será daqui a um minuto. E quando o minuto passar, será de novo. Porque você  sempre esteve certo. E eu, errada, fiquei no tempo que eu mesma faço.

Sou vento novo vindo do mesmo pulmão. E nunca vou entender. Nem você.

Indigna de perdão, porque faço exatamente aquilo que não queres que eu faça: sofro. Mas somente sofro porque verdadeiramente amo.


(baseado na música Por que nós? de Marcelo Jeneci)





domingo, 29 de janeiro de 2012

Desabafo

Eu quero ser uma escritora, mas acho que primeiro preciso aprender a ser mãe.

Hoje o sol brilhava forte la fora quando eu acordei, perdido num céu azul que fez meus olhos brilharem. Ganhei, de bom dia, um abraço apertado ouvindo a voz suave da minha filha no meu ouvido. Levantamos e fomos preparar o café da manhã para nós e para todas as bonecas dela. Sentamos todas na mesa.

Sim. Tinha tudo para ser um domingo perfeito. Íamos almoçar no shopping, e depois brincar no bosque que tem bem em frente ao prédio onde moramos. Enquanto eu ia trocar de roupa, e ela me pediu para colocar um desenho para ela assistir. E foi exatamente nesse momento que eu vi a tela da tv, de led, que eu ainda não paguei nem a metade, pintada de esmalte.

Aí teve toda aquela parte onde eu briguei com ela, depois me acalmei, conversei, expliquei (de novo) e a vi com os olhos cheios de lágrimas arrependidas. " Por que, filha? Pra quê?". Ela apenas chorou, sem respostas.

Detalhe: ela já riscou essa mesma televisão com uma chave de fenda. E eu já conversei um milhão de vezes, sem brigar (juro). Expliquei que não podia fazer aquilo e porque não podia fazer aquilo. E ontem, quando chegamos em casa, eu disse: "pode brincar o quanto quiser, mas não coloque a mãozinha na televisão, tá?". 

Demorou algumas horas pra eu conseguir limpar, mas agora, me sinto péssima. Não mais pelo esmalte em si. Mas por ver minha filha crescendo sem que eu consiga ensinar o que eu preciso que ela aprenda. Coisas pequenas sim, mas eu não tenho com quem dividir as broncas que preciso dar nela, nem ninguém para me dizer se eu me excedo ou se estou sendo light demais com ela. O que exatamente eu devo fazer? Como agir?

Existe um monte de cursos e livros que me ensinam como escrever bem. Mas onde eu encontro um manual que me ajude a ser uma boa mãe? Será que sou? Será que um dia serei? E, de acordo com as minhas atitudes, o que a minha filha vai ser quando crescer?

Sim. Foi apenas uma molecagem. Apenas mais uma bagunça. Apenas mais uma coisa que ela estragou, mesmo porque ela tem apenas 4 anos. Mas, não sei exatamente porque, isso me afetou de uma maneira inexplicável. E eu não estou mais brava... Ainda que ela tivesse quebrado a porcaria da televisão em mil pedacinhos, eu teria saúde e disposição para trabalhar e comprar outra.  Mas estou triste. De fato, tentando esconder algumas lagrimas que insistem em escorrer.

Eu não achei que era fácil ser mãe. Mas também não sabia que algumas coisas, em certos dias, me deixariam tão devastadas assim.

Ainda quero (e vou) ser escritora. Mas acho que por hora, preciso aprender a controlar meus sentimentos.


quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Para você, R.A.C.

Nenhum livro, nenhuma poesia, nenhum pensamento pode exprimir melhor o que eu sinto por você do que esta música.



Porque nós
Éramos célebres líricos
Éramos sãos
Lúcidos céticos
Cínicos não
Músicos práticos
Só de canção
Nada didáticos
Nem na intenção
Tímidos típicos
Sem solução
Davam-nos rótulos
Todos em vão
Éramos únicos
Na geração
Éramos nós dessa vez
Tínhamos dúvidas clássicas
Muita aflição
Críticas lógicas
Ácidas não
Pérolas ótimas
Cartas na mão
Eram recados
Pra toda a nação
Éramos súditos
Da rebelião
Símbolos plácidos
Cândidos não
Ídolos mínimos
Múltipla ação
Sempre tem gente pra chamar de nós
Sejam milhares, centenas ou dois
Ficam no tempo os torneios da voz
Não foi só ontem, é hoje e depois
São momentos lá dentro de nós
São outros ventos que vêm do pulmão
E ganham cores na altura da voz
E os que viverem verão
Fomos serenos num mundo veloz
Nunca entendemos então por que nós
Só mais ou menos
(Marcelo Jeneci)

Voltando à terapia

Sim. A minha intenção, ao criar esse blog, era mesmo contar a minha história. A história da menina que (sabia) queria escrever. A menina que brincava com as palavras. E a menina que um dia alguém descobriu que poderia sair da tela e virar páginas. Ainda é. E eu ainda quero ser. Noite escura insone, sonhos claros como o sol.

Eu bem tentei não mudar o foco, mas o fato é que eu simplesmente não consigo ficar sem o meu cantinho terapia. 

Hoje, peço licença. Nem sei a quem, nem sei se há alguém. Mas peço a mim também. Porque saudade é pra quem tem. Falo daquelas coisas que a alma sente, e que não se nomeia, posto que o sentimento que me rodeia também a mim me desnorteia. E a mente pede: escreva. 

Difícil expressão daquilo que não tem forma. Contudo, ocupa espaço. E o faço de maneira errada. Certo seria um outdoor, um dó maior, um sinal melhor. 

Continuo tentando, com quase todas as minhas forças, ser o que não sou. A independência e indelicadeza são apenas os meus esconderijos preferidos. Sentimentos preteridos. Amor escondido. Incompleta. Sou a romântica que nunca admite sê-lo. E desejo. Não carne, mas transcendência. Sei quem. Cada dia um novo mesmo alguém, que ronda e sonda. Encontrar(-te-)ei?

Vejo-me mais uma vez perdida, mas desta vez entre as coisas que já achei. Tudo em minhas mãos, e eu sem poder cerrar os dedos. Um mundo em minha frente, mas eu ainda do lado de cá. Do lado de cá da muralha, e um coração que vez por outro se estraçalha. Migalha. 

Espera. Acalma-te. Não anseia tanto assim. Será que existe uma fórmula para fazer tudo isso funcionar? Ensina-me?

Embalo-me. Seco-me. Desvio-me. Vou, mas fico. E vou, mas volto. Sei bem onde quero estar, mas nem ao menos permito isto desejar. As mesmas situações, vistas de outros ângulos. Um e outro você que entra e passa pela minha vida. Passa. Deixa o que eu não quero ter, toma-me o que eu não quero dar. Um e outro você. Tudo meu, nada meu.

A inspiração que me faz conexão. Sou o que resta. Penso em você e quero. Mas quem é você hoje? Não. Engana-te. Outro corpo, mesmo escopo. Sou tóxica: afasto de mim aquilo que mais quero bem. E não sei lidar. Não sei falar. Sou escrever. E seria mentira dizer que não me importo se vai mesmo ler. Porque em verdade, queria que já soubesse.

Longa data. E eu nunca me desencantei dos teus encantos. Que vi de longe. Senti de longe. E dou-te, mais uma vez, aquilo que um dia já te dei. Sei que aceita. Mas és como eu. Certamente agora também se arrepende. E se... 

Porque é tão difícil entender que algumas coisas não precisam ser entendidas? Faça tu. Que eu faça. Mas não quero mais que um outro dia se acabe e, de longe, os pensamentos se encontrem. Conversão. Reversão. Aversão. Paixão. 

Sabes? Saiba então: sinto sua falta. No fim das contas, mais uma vez, eu vim só para a despedida.

sábado, 21 de janeiro de 2012

A resposta do leitor

Eu levei uma bronca. Um tapa na cara, com luvas de pelica. E nem me dei conta do quanto eu estava precisando disso.
Como já muito bem disse Zeca Baleiro, “vida, vida, noves fora zero”. Sem saber, e sem querer, eu fui extremamente injusta com meu leitor. E, como a palavra proferida nunca volta, o que me resta é tentar a redençao. Eu definitivamente não sei como fazer isso senão com mais palavras. Espero não estar cansando-o.
Foram poucas as frases que eu tive em resposta à minha suposta perda, mas eu acho que consegui tirar delas tudo aquilo que elas queriam dizer. Eu não conseguiria ter sido tão objetiva. Ao contrário de mim, meu leitor é simples. Eu, pronome indefinido. E confesso que estou tendo dificuldades em deixar este texto claro como deveria ser. Não será, provavelmente. Mas não me custa tentar.
Esta sou eu, abaixando a cabeça, e pedindo perdão publicamente.
Eu errei, primeiramente, ao chamá-lo de meu. Não por não acreditar que o tenho (ou tive), mas por tornar posse aquilo que é sentimento. O que eu sou, sabes. Máscaras nunca foram necessárias desde que deixamos de lado os personagens. Enxerga meus olhos como um diário, e neles me folheia, passeando a cada dia pelas minhas noites. Desncessário saber onde estou para compreender, depois, por uma breve leitura, que eu sempre estive maquinando e recriando. Recreando. Mina de letras, que se unem muitas vezes sem a minha permissão. E por isso, perdão.
Eu errei, ainda, em insistir que lesse o pedaço do meu coração. Parcial. Sem espaço para argumentação. Apenas me deixei levar. Perguntou-me se era verdade ou “tipo”. Não sou tipo. Não com você. Já disse outras vezes que preferia não saber escrever se isso implicasse em não sentir tudo que sinto. Mas sou tormenta. E muitas vezes nao tenho consciência de que os ventos fortes que sopram ao meu redor respingam a minha dor onde não deveria jamais haver qualquer dissabor.
Tentativa desesperada de manter seus olhos sobre os meus escritos, ultrapassei uma barreira que eu sempre soube existir. Se vai me ler, que leia o que eu tenho de bom. Você é muito (ou quase tudo) que me faz sorrir. E em sorriso, sou a minha parte boa. Desejo apenas que continue me decifrando, porque o faz como ninguém.
Finalmente, errei porque deixei transparecer apenas o que me dói na tua ausência, sem dizer, contudo, que sempre em mim tu és presença. Não te quero diferente, mas que seja sempre em mim crente. Não te quero mudança, mas que faça parte da minha andança. E não te quero mais do que te tenho. Leitor. Amor.
Peço licença ao poeta Marcelo Jeneci para parafrasear uma de suas canções. Algumas vezes, eu gostaria de ter escrito aquilo que um outro alguém já escreveu e expressou-me muito melhor que eu mesma teria capacidade para fazer.
Não mais te darei flores, porque elas murcham e morrem; nem te darei presentes pois envelhecem e desbotam. Não te darei bombons, porque eles acabam, eles derretem; nem te darei papéis pois rasgam e borram. Não te darei discos porque eles riscam e arranham.
Farei, mas não te darei. Guardarei. Ou apenas esquecerei. Como esqueço toda a dor que de fato eu sinto. Some tudo quando em você eu apareço.
Mas dar-te-ei os sorrisos em textos, e desejarei que os olhos meus sejam os olhos teus.  Porque esses embalam, mas esses ficam.
E dar-te-ei a mim mesmo agora, e serei mais que alguém que vai correndo para o fim. Essa morre, essa envelhece, acaba e chora, desespera. Essa vai, mas essa volta.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Perdendo meu leitor

Pequena que sou, na minha insignificância, hoje senti uma pontinha de dor nova e diferente no meu coração. Como uma criança que chora por ver quebrar seu brinquedo favorito, eu chorei lágrimas secas por perder o meu leitor. Meu primeiro e único leitor. Como previsto, escorreu, como areia, por entre meus dedos.
E eu não me recordo de ter fechado as mãos. O que é meu não precisa ser preso a mim para meu permanecer. Mesmo deixando livre, não o tenho mais. Sem poder fazer nada, assisti de camarote meu leitor voar, e depois voltar, mas não era mais meu. Foi um dia?
Mente cheia. Mas o que eu escrevo tem ficado guardado, escondido. Empoeirando. Envelhecendo. Ocupando espaço. Perdendo sentido. E, o mais triste, ganhando desprezo. Não faz mais tanta diferença como um dia fez. E eu que não achei que me faltaria um dia vontade de escrever, observo-me sentada procurando palavras que antes brotavam dos meus olhos e tomavam forma sob uma folha de papel em branco.
Ou a folha amarelou, ou as palavras fugiram de mim. Ou o meu leitor me abandonou. Ou tudo junto.
Posso afirmar que fui uma pessoa de sorte. Tive alguém que conseguiu entender de mim mais do que eu escrevi. Leu-me a alma. Decifrou-me os olhos. Derrubou-me enquanto barreira. Acreditou-me o sonho. Interpretou-me como ninguém. Conquistou-me o coração. Mas, por fim, desencantou.
Insistente que sou em acreditar nas coisas que não podem ser verdadeiras, sorri. Mas o sorriso não era meu. Nada é. Nem mesmo as minhas palavras. Deixam de ser minhas no exato instante em que exteriorizam aquilo que um dia esteve somente aqui dentro. Como a água da chuva, passou. Foi-se embora o meu leitor.
Outras rimas talvez o impressionem mais. Alguém mais sem nexo que eu talvez esteja tentando demonstrar outros ângulos da mesma escuridão em que vivo. Outra luz talvez brilhe mais. Ou talvez (o mais provável), meus dramas tenham se tornado monótonos. Repetitivos. Cansativos. Não sou tanto quanto me imaginou ser.
Chego a dizer. Perguntar. Procurar. Mas ouço de volta alguns risos. Comentários evasivos. Em menos de três minutos não é possível que tenha lido ou entendido porque considerei-o lindo até a página cinco. Nem mesmo chegou à página cinco. É tudo sempre igual, por que ler mais uma vez?  
Fato é que eu não medi direito a intensidade das ondas que se quebravam na minha praia. Deixei-me levar pelo barulho do mar. E enquanto achava ser o sal, eu era (eu sou) apenas areia. Um grão, em meio a tanto outros. Em meio a tantas outras.
Senti-me ainda mais perdida quando disse que eu não deveria fazer nada. Sim. Racionalizo. Emocionalizo. E entendi da minha forma. Sempre foi assim. Não causa mais estranheza. Perdi meu leitor numa noite em que resolvi (por burrice) questionar o sentido de uma frase. E ao fim, concordamos, eu e ele, que aquela conversa seria melhor se nunca tivesse acontecido. Mas ela aconteceu.
E agora, os dias se passando, e tudo de mim se afastando. Não o prendo mais com frases minhas. Nem gestos. Nem nada. A ausência não fez no outro lado o mesmo estrago que fez do meu. Tudo continua igual, e, ainda assim, eu sinto tudo assim igualmente diferente.
Perdi meu leitor. E com ele se foi também o meu amor.
  

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Poetizando na madrugada

"Mais uma noite de insônia.
Mais um pensamento com gosto de amônia.
Mais de mim.
Assim.
Sem fim.

Mais da mente que voa.
Mais imaginação a toa.
Mais de ti.
Mas não aqui.

E no mais, me faço menos.
Provo dos meus próprios venenos.
Já não mais creio.
Anseio.
Devaneio."

Sim. Esta sou eu insone de novo, as quatro da manhã.

Fico quieta, na minha, um tempão. E justo quando resolvo abrir os olhos pra dormir, vejo marcas de quem eu não queria ver.

Solução: escrever.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Desconfianças

Os dias continuam passando. Lentamente.

Sem notícias ainda, mas a falta delas era desde sempre esperada. Aguarde até que a pessoas de férias retorne. E, enquanto isso, perca o sono questionando-se quem ou o que você é.

Obedeço.

Percebo claramente os sinais da abstinência da escrita na minha vida. A mente começa a faltar em espaço e a confundir-se em devaneios. Impossibilitada fisicamente de sentar e deixar os pensamentos ganharem forma em palavras, eu apenas insônia. Busco alternativas. Rotas de fugas. E sei que não há caminho por ali. Mas caminho.

Na noite, as coisas ficam mais claras. E isso não é, em absoluto, positivo. Prefiro não ver, pois assim não me confundo. E exatamente quando penso que estou me estabilizando, terremoto.

Eu prevejo a decepção, e, furacão que sou, não espero. Vivo. E dói a ponto de me fazer chorar. Eu sei a quem culpar. Posso hoje mesmo sobre isso discursar. Soluços cortam o silêncio e me fazem ver que o que eu vejo ainda não existe.

Antecipo.

A eterna loucura de saber a resposta da pergunta, mas ainda assim torcer com todas as forças para que seja diferente.

Ausente. Provável que é isso que me faz descrente. Já não sei mais se quero que retornes, ou que te tornes permanente espera. Mas, mesmo sem querer, novamente confundo o que desejo com quem desejo. Por que não te acalma, coração?

Anseio.

É, talvez, só mais um efeito dos remédios.